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15.8.10

Passeio Público

{Cortar o mal pela raiz}
Normal, tudo demasiadamente normal. O calor excessivo, a lentidão dos dias, as cinzas que envolvem os montes após os fogos. O Verão habituou-nos a esta miséria consentida de eucaliptos, maus acessos e bombeiros extenuados. Perdem-se homens e mulheres, paisagens, dinheiro e alguma inocência mas reiteram-se os hábitos que favorecem a destruição do que nos é potencialmente mais querido. Uma mulher, um renque de árvores, um

Quando, em Agosto de 2005, o fogo avassalou Coimbra de uma forma tão violenta quanto rara, pensámos que aquela fantasmagoria dantesca era apenas um acidente do destino, remetida para a singularidade de um acaso pouco feliz. Não obstante, se pouco ardeu entretanto em redor da cidade é porque pouco restou para arder depois do grande incêndio que ocorreu há cinco anos.

Mais tarde ou mais cedo, quando a massa florestal for suficiente para que outro incêndio como aquele suceda, a cidade será de novo cercada pelas chamas e, como já é hábito, os responsáveis políticos irão culpar a falta de meios de combate a fogos, a alienação dos incendiários e a resiliência da canícula. Infelizmente, as coisas são mais graves. Os erros estruturais (mau ordenamento florestal, falta de limpeza das matas, inexistência de guardas florestais) acumulam-se desde há muitos anos e o Verão não mostra qualquer misericórdia pelos equívocos dos homens.

No centro da cidade, os problemas são outros mas também afectam a cobertura vegetal: o Parque Dr. Manuel Braga pode ficar sem os seus plátanos, afectados por não menos que três agentes patogénicos, rápidos e letais. É quase impossível imaginar aquele belo espaço sem as suas famosas e generosas árvores, que acolheram sob a sua sombra múltiplas gerações de conimbricenses. Cortar o mal pela raiz – literalmente – parece ser a solução. Mais um microcosmos que se perde.
{Sexta-feira, 13/08, no Jornal de Notícias}

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