Passeio Público
{O Metro: outra vez}
Perdi há muito a inocência – infelizmente. Agora sei, por exemplo, que a maior parte dos fenómenos humanos radica de um reticulado múltiplo de causas, e não fermenta no caldo ordenado e bem definido da “causa única”. Por isso, não alcanço a inquietação justiceira de quem pretende imputar ao Governo do Partido Socialista todas as responsabilidades inerentes à actual situação do Metro Mondego.
Perdi há muito a inocência – infelizmente. Agora sei, por exemplo, que a maior parte dos fenómenos humanos radica de um reticulado múltiplo de causas, e não fermenta no caldo ordenado e bem definido da “causa única”. Por isso, não alcanço a inquietação justiceira de quem pretende imputar ao Governo do Partido Socialista todas as responsabilidades inerentes à actual situação do Metro Mondego.
Um texto recente de Adriano Lucas, director do Diário de Coimbra, é disto exemplo, abraçando por vezes o populismo fácil da oposição mais trauliteira, através de expressões como “acto perfeitamente irresponsável do Governo” ou “nova agressão de José Sócrates”. Esta última frase é extremamente curiosa, porque supõe a existência prévia de outras “agressões” a Coimbra perpetradas pelo primeiro-ministro (nomeadamente a co-incineração em Souselas).
A verdade é que o texto de Adriano Lucas salienta outras circunstâncias interessantes, e justas. Por exemplo: os avultados investimentos que anteriormente se destinaram ao Metro Mondego. Por si só, um fundamento basilar para não deixar esmorecer a obra (também penso assim).
Como é lógico supor, um investimento tão corpulento implica (em teoria) obra consumada – algo que, por muito que me esforce, não consigo discernir. Ao longo dos anos, o Metro Mondego tem vagueado impunemente pelo limbo dos projectos, dos traçados das linhas, das demolições – mas de resto, e em concreto, pouco subsiste deste afã.
A situação deplorável a que chegou o Metro Mondego – a possibilidade real de suspensão permanente das obras – é certamente culpa do Governo, mas não só. As petições e os textos de revolta contra esta circunstância inaceitável para a cidade de Coimbra esquecem os anos de sobranceria e de falta de vontade para resolver os problemas por parte da autarquia conimbricense, entre outros. No final, Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã não podem ficar sem este projecto estruturante. A farsa do Metro prolonga-se há demasiado tempo, e a culpa é de todos nós.
{Sábado, 24/07, no Jornal de Notícias}
<< Home