Passeio Público
{Jardins do Éden}
São coisas que acontecem. Uma pessoa (digamos, um engenheiro ou um responsável autárquico pelo urbanismo) distrai-se e quando se dá por ela os pândegos dos operários já construíram um andar a mais numa série de prédios localizados numa zona central da cidade de Coimbra. Entre reuniões, papelada burocrática, cafés e palavras de desincentivo à fiscalização, há alguém que fareja a tramóia e acaba com a macacada que queria levar os edifícios do empreendimento “Jardins do Mondego” até ao céu, imitando em versão manhosa a história da Torre de Babel.
São coisas que acontecem. Uma pessoa (digamos, um engenheiro ou um responsável autárquico pelo urbanismo) distrai-se e quando se dá por ela os pândegos dos operários já construíram um andar a mais numa série de prédios localizados numa zona central da cidade de Coimbra. Entre reuniões, papelada burocrática, cafés e palavras de desincentivo à fiscalização, há alguém que fareja a tramóia e acaba com a macacada que queria levar os edifícios do empreendimento “Jardins do Mondego” até ao céu, imitando em versão manhosa a história da Torre de Babel.
Basta considerar os principais intervenientes deste capriccio para nos apercebermos de mais um conúbio desventurado dessa santíssima trindade da prestidigitação: autarcas, dirigentes desportivos (versão circunscrita ao futebol) e empreiteiros. Longe de mim afirmar que todos os autarcas, dirigentes e empreiteiros são desonestos: estes são uma minoria que, sem dúvida, mancha a face das três classes – sobretudo daqueles que sempre conduziram a sua vida com a probidade devida ao cargo que desempenham. Todavia, quando se metem gatos desta natureza no mesmo saco, a fábula só excepcionalmente pode ser moral.
Entretanto, decorre o julgamento do presidente da Académica/OAF e ex-director municipal da Administração do Território, José Eduardo Simões, acusado de nove crimes de corrupção, e o enredo adensa-se, muito por causa das ocorrências caricaturais que vão marcando de forma indelével as sessões de julgamento, como a “amnésia” do empreiteiro Fernando Marques dos Santos.
Se tudo isto não passa de um monumental equívoco, ou de mais uma acção pútrida da “santíssima trindade”, cabe ao tribunal decidir. Por enquanto, resta a esperança de que o gato escondido sempre mostra o rabo e que a verdade se há-de apurar. Toda a gente sabe que o Jardim do Éden era um paraíso na terra, apesar da interdição de merendar maçãs; esperemos que os Jardins do Mondego não se tornem no paraíso daqueles que fazem o que querem nas entrelinhas da lei.
{Sexta-feira, 11/06, no Jornal de Notícias}
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