Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010)
{Nicolas Poussin, 1638-9, Et in Arcadia Ego, Musée du Louvre, Paris}
Poussin talvez julgasse que os pastores cultivam a similitude entre si. Numa imaginação arcádica ou no Namibe parecem os mesmos (irredutíveis, impermanentes, mal-afamados), com os mesmos passos e desencontros, a mesma união centrípeta em redor dos pastos. A sociedade que se estabelece entre os homens e os animais prefigura uma ilusão de harmonia (uma espécie de amanhecer em stacatto) mas, na verdade, é uma desilusão de morte, uma vereda de sacrifício - digna de perdão porque é uma ficção etnográfica (e não uma tourada catalã).
Já não há pastores (o Pato não é um pastor, mas um mero guardador de ovelhas e, se a ocasião lhe é propícia, um seu amante devotado) nem quem os visite.
Etiquetas: antropologia, literatura, pintura, Ruy Duarte de Carvalho
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