Passeio Público
{Cultura}
Quando se fala da “cultura Coimbrã”, seja lá o que isso for, a retórica dos tribunos cede quase sempre à territorialização excessiva de culpas, responsabilidades e comprometimentos. Por outro lado, à voragem da escolha inequívoca de campo junta-se a tendência para o consabido, ou seja, a propensão para destacar de forma acrítica todos os postulados e lugares-comuns que nem sempre correspondem à verdade.
Possivelmente, não será inteiramente lícito corresponder à impressão generalizada de “decadência cultural” uma culpabilidade autárquica (designadamente à anterior vereação da Cultura), ou mesmo corresponder essa mesma sensação transversal de declínio à realidade.
O estado da cultura em Coimbra é muitas vezes pintado de tal modo que se torna difícil contestar, ou mesmo discutir, a sua situação de forma criativa e fecunda – e, como é de supor, não se espera que os debates, mais ou menos cíclicos e redundantes, balizem estratégias e planos com sequência prática a médio e longo prazo. Parece claro que Coimbra não deve muito a outras cidades no que respeita à quantidade e qualidade da produção cultural – o que se verifica, indubitavelmente, é uma fragmentação e uma desarticulação programáticas que dificultam a fidelização de públicos e criam uma sensação difusa de vazio ou pequenez.
Contudo, a diagnose de uma espécie de depressão endémica na cultura da cidade vem sendo feita já há muito tempo, por pessoas afectas a sensibilidades e ideologias diversas. Este diagnóstico, por muito rígido que possa parecer, não pode ser tomado como uma falácia absoluta. As pessoas não sentem no vácuo: algo se passa na cultura em Coimbra, que não se isenta de imperfeições e lacunas.
O discurso prevalente sobre a cultura Coimbrã, que enfatiza a perda e o declínio (uma construção típica de um certo provincianismo), coexiste com a defesa de um “estado cultural” auspicioso, criativo e luminoso. Podíamos concordar com qualquer uma das posições mas felizmente o mundo não é a preto-e-branco.
{Sexta-feira, 02/04, no Jornal de Notícias}
Quando se fala da “cultura Coimbrã”, seja lá o que isso for, a retórica dos tribunos cede quase sempre à territorialização excessiva de culpas, responsabilidades e comprometimentos. Por outro lado, à voragem da escolha inequívoca de campo junta-se a tendência para o consabido, ou seja, a propensão para destacar de forma acrítica todos os postulados e lugares-comuns que nem sempre correspondem à verdade.
Possivelmente, não será inteiramente lícito corresponder à impressão generalizada de “decadência cultural” uma culpabilidade autárquica (designadamente à anterior vereação da Cultura), ou mesmo corresponder essa mesma sensação transversal de declínio à realidade.
O estado da cultura em Coimbra é muitas vezes pintado de tal modo que se torna difícil contestar, ou mesmo discutir, a sua situação de forma criativa e fecunda – e, como é de supor, não se espera que os debates, mais ou menos cíclicos e redundantes, balizem estratégias e planos com sequência prática a médio e longo prazo. Parece claro que Coimbra não deve muito a outras cidades no que respeita à quantidade e qualidade da produção cultural – o que se verifica, indubitavelmente, é uma fragmentação e uma desarticulação programáticas que dificultam a fidelização de públicos e criam uma sensação difusa de vazio ou pequenez.
Contudo, a diagnose de uma espécie de depressão endémica na cultura da cidade vem sendo feita já há muito tempo, por pessoas afectas a sensibilidades e ideologias diversas. Este diagnóstico, por muito rígido que possa parecer, não pode ser tomado como uma falácia absoluta. As pessoas não sentem no vácuo: algo se passa na cultura em Coimbra, que não se isenta de imperfeições e lacunas.
O discurso prevalente sobre a cultura Coimbrã, que enfatiza a perda e o declínio (uma construção típica de um certo provincianismo), coexiste com a defesa de um “estado cultural” auspicioso, criativo e luminoso. Podíamos concordar com qualquer uma das posições mas felizmente o mundo não é a preto-e-branco.
{Sexta-feira, 02/04, no Jornal de Notícias}
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