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9.4.09

Passeio Público

(A mulher de César)

Vislumbro, na inquietação e desordem que constrangem Portugal, uma sombra longa que desce sobre a nossa cabeça, um miasma que comprime o nosso peito. O motivo é impreciso mas o seu corolário é redutível a uma condição psicológica, ou estado mental, manifestamente apropriada, digamos assim, a estes últimos dias da Quaresma: a culpa própria e colectiva, o sentimento generalizado e difuso de que todos somos culpados de alguma coisa.

Infelizmente, a matéria não é teologal mas profana. O desejo iniludível pelo julgamento popular, sem prova ou lei escrita, pelo assassinato de carácter ou pela vendeta marialva, instruído por alguns órgãos de comunicação social que, por pudor me abstenho de referir, parece dispersar-se sem obstáculo e, lentamente, subjugar o aparato mental da nação. O “caso Freeport” é paradigmático: José Sócrates “é culpado do crime de corrupção”. Todavia, o Primeiro-ministro deveria ser tratado com honra enquanto não se consolidam as acusações; já que, com o trânsito em julgado, se pode chegar à conclusão de que ele é inocente. A isto chama-se “princípio de presunção da inocência”. Toda a gente sabe o que é, mas poucos seguem o preceito.

Luís Vilar, vereador socialista na Câmara de Coimbra, comunicou recentemente a sua abdicação do mandato, a pouco mais de um mês do início do julgamento em que é indiciado pela prática de cinco crimes, incluindo o de corrupção passiva. Entrementes, o seu escrutínio público está concluído: culpado, sem direito a defesa ou a julgamento. Embora o dirigente socialista afirme que o julgamento constitui apenas a “terceira ou quarta razão” para a renúncia, parece-me óbvio que o verdadeiro motivo se encontra precisamente no ambiente que rodeia este tipo de acusações: inocente ou não, o arguido é acossado como se fosse pestífero.

Aos políticos, mais do que a qualquer outro, pede-se que sejam como a mulher de César: não podem, simplesmente, ser honestos; têm, também, que parecer honestos. O clima instalado de suspeição não facilita a vida a ninguém: aos culpados e aos inocentes. Isso, sabemo-lo bem, não dignifica a democracia.
(Ontem, 08/04, no Jornal de Notícias)

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