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19.3.09

Passeio Público

(Protocolos e eleições)
As cidades, vilas, aldeias e lugares deste país encontram-se oficialmente em ebulição; e, pelo menos no papel, multiplicam-se os esforços de presidentes de câmara e vereadores, sempre preocupados (e agora mais) com o bem-estar do cidadão ingrato. Pressentidas as eleições autárquicas, começa o corrupio de inaugurações, protocolos e apresentação de projectos.

Em Coimbra não se ouve sequer falar de inaugurações, do famigerado «cortar da fita», talvez por efeito da crise económica, ou da má gestão do tempo. Porém, os projectos e os protocolos, sobretudo estes, abundam. Nas últimas semanas, a pragmática de Carlos Encarnação estimulou as Bandas Filarmónicas de Ceira, Vilela e Taveiro, a Associação Desportiva de Souselas, a Junta de Freguesia de Santa Clara, o Automóvel Clube do Centro e, quem diria?, a própria Universidade de Coimbra. No fundo, se acreditarmos no substrato cavado das notícias, são coisas pequenas e formalmente burocráticas que se revelam numa imensidão de insignificâncias e fogos-fátuos.
O estabelecimento de protocolos com metade das instituições do Concelho parece ser apenas uma manobra estetizante, estratégia permissível nas batalhas dos votos (uma heresia possível) mas reveladora da escassez de visão a longo prazo deste executivo camarário e, sobretudo, um melancólico indicativo do pouco trabalho que se tem concluído. As eleições parecem estimular, mais do que a democracia, o empenho e a paixão dos governantes; e o esforço demagógico é superlativo nas eleições autárquicas – mas só em algumas autarquias, diga-se com justiça.

Os protocolos, os projectos, a demagogia, o populismo: em Coimbra, tudo o que descamba num sinal adiado. A cidade parece não perder a luta vã com o tempo. Mas, com tantas horas descontadas ao futuro, as mãos começam a acariciar ruínas em vez de faces.
(Ontem, 16/03, no Jornal de Notícias)

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