A olhar para diante
Não muito longe da garagem de L..., na dura época entre as duas guerras, um certo Steyr Bleyberg, jovem, nitidamente pobre, viu surgir um carro do lado direito da rua. Bateu com a testa nas costas da mão, ensombrado pela ansiedade, e depois, fugindo dos olhares dos estranhos, deu o primeiro passo em direcção à estrada (infinita lentidão). Embora nessa época os carros fossem pouco rápidos, a Bleyberg parecia-lhe que aquele, em particular, levantava voo. Por culpa dele espalhou-se por toda a cidade um turbilhão de ruídos oleados. Na rádio, os locutores, com voz grave, davam as notícias mais obsidiantes: podia-se ser torturado em suaves prestações mensais. O que quer que Steyr Bleyberg tivesse ainda que fazer não lhe interessava mais. Abraçou uma pequena nuvem branca, carregada de jóias e peles gastas, e disse-lhe desfeito em sorrisos: «um dia quero que vejas a minha cara».
Etiquetas: devaneios, literatura
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