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26.8.03

Alexandre e Bush; Dário e Saddam

Contínuo persuadido que assemelhar a intervenção americana no Iraque com a ingerência bélica no Vietname há três décadas revela uma falta de conhecimento histórico e sobretudo, uma carência no domínio de uma ciência designada por estatística. Pois é senhores analistas, no Vietname pereceram quase 60 mil soldados americanos, no Iraque, a cifra de homens (e mulheres) tombados, embora aumente todos os dias, é bastante mais reduzida.
Não deixa de ser preocupante, contudo, a lista diária de baixas. Os ideólogos da nova direita ultra-liberal (atrevo-me a chamar-lhe fascista) são, ao contrário do patético Bush filho, indivíduos de elevado escol cultural, subtraídos de contextos académicos e empresariais de inegável valor. Leram, viajaram, estudaram, aprenderam. E eu aposto que leram avidamente o pequeno manual para déspotas escrito por aquele florentino magnífico de nome Nicolau Maquiavel.
N’O Príncipe pode ler-se um capítulo (Cap. IV: Porque motivo o Reino de Dário ocupado por Alexandre não se revoltou contra os seus sucessores após a sua morte) em que Maquiavel discorre sobre os modos como os principados são governados de duas formas díspares. Num país em que os moldes de poder se aproximam de uma soberania totalitária em que todos são dependentes do soberano é difícil a um potentado estrangeiro tomar o poder pelas armas, discorre Maquiavel. Não obstante, “[…] depois [da vitória], o vencedor nada tem a temer”. Ou seja, a dificuldade para tomar este tipo de estados consiste, de acordo com Nicolau Maquiavel, em vencer o seu soberano em batalha. O passo seguinte consiste em aniquilar a sua família e “[…] exterminada esta, não há ninguém a recear”.
O suserano Dário, Saddam Hussein… Alexandre, George W. Bush… Depois da prosternação das cúpulas iraquianas e da morte de Uday e Qusay, os falcões de Bush rejubilaram com o iminente e recidivo avatar da conquista do reino de Dário, desta vez no Iraque. Não avaliaram o poder da estatística. Os soldados americanos continuam a cair.