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24.1.10

Passeio Público

(Ventos de Espanha)
As autoridades portuguesas e espanholas parecem estar de acordo: a ETA pretende estabelecer uma base operacional em território português. As buscas do lado de cá da fronteira já começaram e todos os anexos, garagens ou barracas suspeitos têm sido prontamente esquadrinhados, revistos e vistoriados, não vá dar-se o caso de por lá se fabricarem bombas e outras armas de destruição maciça.

As investigações centraram-se nas regiões do Douro e Beira Litoral, concretamente no Porto e em Coimbra. Aparentemente, outras zonas, mais próximas da fronteira, não reúnem as características perfeitas para o estabelecimento de uma base permanente, uma estrutura a partir da qual a organização separatista basca pode lançar ataques sobre o país vizinho.

Contudo, uma base em Coimbra, com toda a logística associada, não queda pelo preço da uva mijona: recordemos o custo da habitação na cidade, sobretudo se a intelligentzia separatista procura apartamentos com garagem e quartos que cheguem para três ou quatro etarras (suponho que, apesar de bombistas, os filiados da organização não abdicam de um mínimo de privacidade).

Por outro lado, a cidade abunda em “festas Erasmus”, com estudantes espanhóis em barda, pelo que não será difícil a um terrorista passar despercebido entre aqueles jovens, dos mais típicos e emblemáticos da fauna académica conimbricense.

Ao “estudante Erasmus” acresce uma outra possibilidade de disfarce: a de turista. A afluência de espanhóis à cidade é razoável, e acha-se em crescendo, por via da oferta cultural e da aposta que a empresa municipal de turismo tem realizado em Espanha. Nas festas da Rainha Santa ou nos Dias Santos de Guarda, em frente ao memorial à irmã Lúcia, ou ainda na Biblioteca Joanina (e, quem sabe?, até no estádio Finibanco), não escasseiam na cidade os irmãos castelhanos, leoneses ou catalães. Enfim, que a partir de Coimbra se lancem as sementes da liberdade.

Entretanto, um protocolo da Universidade de Coimbra com o Banco Santander (instituição económica cantábrica e, portanto, vizinha do País Basco) vai permitir o restauro da Torre da Universidade. Há ventos que sopram desde Espanha, e nem todos são desagradáveis.
(Anteontem, 22/01, no Jornal de Notícias)

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