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15.1.10

Passeio Público

(O frio da rua)
Este desassossego com o frio faz mais pela devastação das esperanças da cimeira de Copenhaga que mil políticos juntos. Com este frio de tundra, quem é que compra, sem se rir, as teorias catastrofistas do “Aquecimento Global”? Provavelmente só os excêntricos do costume: cientistas, ambientalistas e um ou outro religioso, seduzido pela história das pragas do Egipto. De qualquer forma, pode ser retirada uma lição a partir do fracasso de Copenhaga: a próxima cimeira sobre o ambiente deverá ter lugar no Atacama, ou no Sara, no pico do Verão, para que os fiéis de Cuvier não desmereçam do calor.

Contrariando a posição científica dominante, um “sábio” da ONU, Mojib Latif do Instituto Leibniz (Alemanha), diz agora que é provável que o mercúrio dos termómetros baixe consideravelmente nos próximos trinta anos. Aproxima-se uma pequena Idade do Gelo (não é um novo filme com o esquilo Scrat), afirma convictamente o especialista em climatologia.

Tudo isto é preocupante. A indisciplina dos saberes. O desencontro de opiniões. Todavia, nas ruas poucos ligam aos avisos, às teorias, às previsões. O frio é uma realidade concreta, como a chuva e a fome. É um prego na tábua da solidão.

O director municipal de Desenvolvimento Humano e Social, Oliveira Alves, fala-nos de um aumento do número de sem-abrigo nas ruas da cidade de Coimbra. Mais corpos bárbaros e esquecidos, reprovados pela família, pela sociedade e pela fortuna. Estas assembleias de desilusão incorporam, não só os desvalidos do costume, os toxicodependentes, os alcoólicos, as prostitutas, mas também licenciados, desabrigados pela autoridade das circunstâncias, pela insuficiência humana do capitalismo tardio.

As equipas técnicas da Câmara Municipal de Coimbra prestam apoio a estas pessoas mas, a longo prazo, elas serão novamente esquecidas, e poucas serão resgatadas do frio e do insulamento dos dias. Parece não existir uma saída digna, ou mesmo discreta, desta solidão indizível. Os sem-abrigo existem mas quase ninguém os “vê”. Mesmo quando são licenciados.
(Hoje, 15/01, no Jornal de Notícias)

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