Passeio Público
(Vitórias e festa)
A democracia portuguesa é um espanto. Uma maravilha. Agrada ao país inteiro, ao menino e à menina, do mais novo ao mais velho, ao pobre e ao rico – e até aos condenados pelos tribunais. Quando há eleições, ainda é melhor: todos, ou quase, são vitoriosos. E as vitórias, normalmente, são “esmagadoras”, reveladoras da “vontade popular”, garantes da continuação/mudança (riscar o que não interessa) das “políticas vigentes”. O cosmos eleitoral não é a preto e branco. É todo preto ou todo branco.
Coimbra, cidade do meio (na geografia, na dimensão), não despreza o cânone. No último Domingo, depois de conhecidos os resultados das eleições autárquicas, celebraram-se as vitórias. Foram muitas e bem distribuídas. O PSD (coligado com o CDS e o PPM) ganhou a capital do distrito. E festejou. O PS ficou em segundo mas subiu a votação no concelho. No distrito, teve a maioria dos votos e conquistou ao PSD as câmaras da Figueira da Foz, de Oliveira do Hospital e de Penacova. Festejou. A CDU elegeu Francisco Queirós e ganhou em cinco assembleias de freguesia. Obviamente, festejou. O CDS não foi a votos mas também ganhou na cidade de Coimbra (à boleia de Carlos Encarnação). É provável que tenha festejado.
O Bloco de Esquerda e o independente Pina Prata foram os grandes derrotados da noite. Não devem ter festejado, até porque nada havia para festejar, mas nunca se sabe: a psique dos políticos portugueses é insondável e excêntrica, facilmente descobre realidades alternativas e mundos virtuais que nada devem ao rigor empírico. A esquizofrenia das eleições autárquicas atinge o seu zénite no momento da comemoração: pela vitória, pelo aumento da votação, pela derrota por poucos. É difícil atravessar um distrito sem notar, nas ruas, a festa de quatro ou cinco cores. Agora, cabe exprimir o óbvio: a festa acabou. O trabalho, não. Nunca acaba, não espera nem diminui.
(Hoje, 16/10, no Jornal de Notícias)
Etiquetas: Coimbra, democracia, jornais
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