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8.8.09

Passeio Público

(Geometria ética)

Provavelmente poucos estariam à espera que Isaltino Morais, o presidente da autarquia de Oeiras, fosse tão severamente condenado pelo colectivo de juízes do Tribunal de Sintra. Antes de conhecida a sentença - sete anos de prisão efectiva e a perda do mandato, saibam-no os mais distraídos – talvez ninguém supusesse que seria este o final da história.

Desenganem-se, não é. A justiça é um rio longo, e perde-se muita água pelo caminho. Ainda há tempo para outras batalhas: Isaltino vai recorrer da sentença e mantêm, com toda a naturalidade, a sua candidatura à Câmara Municipal de Oeiras. Está no seu direito. Ninguém pode ser punido antes de a decisão transitar em julgado.

Todavia, esta situação não se resume à matéria do foro criminal; configura, ainda, uma posição ética e moral, salientada, de resto, pela juíza Paula Albuquerque. Note-se, aliás, a posição de Marques Mendes relativamente à presença de arguidos em processos criminais nas listas do PSD. Não basta uma ética da seriedade; não basta uma lisura geométrica; a aparência de seriedade e de lisura é tão importante como a própria seriedade e lisura. Esta anatomia da suspeita é parte essencial da política contemporânea.

No teatro da crueldade, o “autarca (e, por extensão, o político) português” é, o mais das vezes, uma figura injustamente malquerida e estigmatizada. E Isaltino Morais é o autarca arquetípico, rapsodo e engenhoso. Liberto do “ruído da ideologia” e dos espartilhos partidários, repetindo uma estética pouco esdrúxula em cada charuto fumado, condenado em primeira instância pelos tribunais.
O voto dos eleitores é diferente do voto dos juízes. “A política está num lado e a justiça noutro”, adverte o autarca oeirense. Talvez Isaltino ainda vá a tempo de adoptar o slogan do infame Adhemar de Barros, que rouba mas faz. Afinal, Oeiras é dos concelhos mais desenvolvidos do país – disso não tenho qualquer dúvida.
(Ontem, 07/08, no Jornal de Notícias)

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