Passeio Público
(Do Choupal até à luta)
Não matem a mata (do Choupal). Eis um bom slogan (apesar daqueles “matem” e “ mata” quase consecutivos: parecem berlindes a rolar na boca), uma “punchline” que condensa maravilhosamente bem a disposição da luta que se excita contra mais um insulto a Coimbra. Refiro-me, evidentemente, ao licenciamento do novo percurso do IC2, de consequências sombrias para um dos “pulmões” da cidade.
O novo traçado do IC2, recentemente aprovado pelo secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, exige a construção de um viaduto localizado entre a Ponte Açude e a ponte ferroviária. Foram sete os organismos oficiais (ICNB, INAG, IGESPAR, INETI, CCDRC, CCDRN e APA - Agência Portuguesa do Ambiente) que integraram a Comissão de Avaliação do impacte ambiental da ponte, e a conclusão retirada dos estudos efectuados confronta radicalmente a decisão de Humberto Rosa: uma nova ponte sobre o rio Mondego e Choupal terá efeitos prejudiciais e definitivos sobre os recursos hídricos, o meio sonoro, a matriz vegetal e as rotinas dos que usam diariamente o precioso espaço verde como zona de lazer e descanso.
Uma nova travessia sobre o Mondego não está, pois, isenta de sequelas dolorosas, perpetuadas na amputação de uma parte significativa do corpo do Choupal, cerca de 4 hectares de massa vegetal.
O licenciamento dessa “ponte não desejada” prefigura, de resto, uma nova experiência de “silenciamento administrativo” da cidadania em Coimbra, depois da “reorganização” da Alta nos anos de 1950 (quem disse que o reductio ad Salazorum não pode constituir um bom argumento?), depois de Souselas, depois da Cultura (com maiúscula) e de Mário Nunes.
O choupal é também um monumento, uma memória erguida da cidade, como a Sé Velha ou a Torre de Anto – e ninguém deseja a obliteração dos claustros da Sé, por exemplo. Coimbra é do Choupal, e o Choupal é (parece ser, pelo menos) de um qualquer projectista insensato. A mata de Vale de Canas desapareceu pelo fogo, a mata do Choupal desaparecerá pelo betão. Coimbra do Choupal, Pardalitos do Choupal, do Choupal até à Lapa: deixem-nos ao menos isso.
(Ontem, 04/02, no Jornal de Notícias)
(Subscrever a petição “Em defesa do Choupal”)
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