Passeio Público
(Este humor que vos deixo)
O mundo não muda grande coisa com o passar do tempo: não mudou em vinte séculos, e muito menos num único ano. Acho que se pode dizer isto. Em Portugal, a “crise” parece ter existido sempre, como as dores de parto e os deputados absentistas. Distraídos com as montras dos centros comerciais, percebemos tardiamente que o dinheiro não “vai chegando” para tudo. Percebemos que está tudo igual, mesmo quando tudo parece diferente. E que, independentemente do que se diz e se sente, as coisas permanecem iguais porque o mundo é péssimo (evidentemente); sempre o foi e, digo-o sem relutância, sempre o será.
O mundo não muda quase nada, mesmo em trezentos e muitos dias. Dá vontade de chorar e de lançar pedras à polícia. É claro que isso já se vai fazendo, com alguma sinceridade e pouca pontaria. A “crise” antecipa o apetite pela destruição - note-se como as sólidas rochas do Pártenon se desfazem, estrepitosas, no broquel das autoridades gregas. Chegará o dia em que não haverá uma única pessoa no mundo que não esteja zangada com alguma coisa. Nesse dia anunciar-se-á, alegremente e sem remorsos, a morte da “humanidade”. Seja lá o que isso for.
É certo que nos encontramos, afinal, distanciados desse dia. O caos foi o início de tudo e será também o fim de tudo mas, por enquanto, temos ainda tempo para ridicularizar o que resta do ser humano. O riso é necessário, suspenso na incredulidade dos dias. É preciso “fazer pouco” de quem julga ser “muito”, eis o mandamento que vos deixo.
Para “fazer pouco” do mundo temos agora o Bruno Aleixo. O Bruno é um cão (já foi um Ewok) de Coimbra; gosta de ir ao café do Aires (“na estrada perto dos comboios”, em Coimbra B), mas tem sido visto mais vezes na SIC Radical, aos Domingos à noite. O Bruno Aleixo não é um cão vulgar – nem sequer tem pulgas, ele que se purifica, da cabeça aos pés, com “champô” 2 em 1. É um cão que fala (com um sotaque a fazer lembrar o “Leitão à Bairrada”), como nas historietas de La Fontaine, mas pouco dado a sentenças edificantes. É narcísico e inconveniente. É egocêntrico, mas sabe tocar piano e canta como um rouxinol (à noitinha). É (sou justo) o maior. Faz-me rir, o Aleixo, como há muito não me ria.
Quanto mais conheço os homens, mais gosto do cão. Ou lá o que é aquilo. O Bruno Aleixo, conimbricense sentimental e velhaco. Naturalmente, um senhor.
(Ontem, 17/12, no Jornal de Notícias)
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