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21.3.07

Poesia

Luís Quintais e Anne Carson no dia mundial da poesia.
Do Luís, meu ex-professor [mas quem foi nunca deixa de o ser] e amigo, um poema do seu primeiro livro, A Imprecisa Melancolia [Teorema, 1995]:
Na Catedral
Cheguei cedo à catedral.
Turistas prostravam-se
às suas portas.
Às dezasseis, invadiram-se as naves
com a avidez do sagrado
ou da sua nostalgia.
Nenhum anjo nos tocará na face,
nenhuma forma se incendiará de puro desejo.
Não partilharemos mais
que a curiosidade a horas marcada.
Nada há que se contemple.
Nem o lembrado exercício do canteiro,
nem a fúria do geómetra que, da palavra,
quis a sereníssima música,
o portal dos céus.
Nada há que se contemple.
Não há olhos
que contemplem
a imensa porfia do divino
que, tão perto das pedras e tão longe
dos homens,
fez dos séculos um imenso
retábulo, um espelho de umbrosos
desígnios, de trânsitos sem esperança.
De Anne Carson, uma motivação inserta em Plainwater [Random House, 1995]:
After a story is told there are some moments of silence. Then words begin again. Because you would always like to know a little more. Not exactly more story. Not necessarily, on the other hand, an exegesis. Just something to go on with. After all, stories end but you have to proceed with the rest of the day.

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