Rainha dos pobres
Ontem, quando ia para casa - o carro mais lento devido ao trânsito denso - as constantes paragens permitiam um olhar mais atento ao dia-a-dia da cidade: ontem definitivamente alterado pela feição religiosa e festiva ofertada pela procissão da rainha Santa. Não raras vezes, quando conduzimos um automóvel, somos pressionados a parar defronte de uma zebra, para que um, dois ou mais transeuntes passem de um lado ao outro da estrada em segurança. A jovem, talvez bonita e vestida à moda, trespassou a estrada, altiva, como guarda de honra de uma velhota de face empergaminhada, de negro trajar, suspirando os passos lentos de joelhos, talvez percorrendo o longo caminho que permeia a Igreja da Graça até ao Convento de Santa Clara a Nova. A paradoxal imagem atordoou-me por instantes - somos tão pequeninos, mas alguns conseguem fazer tanto. Lacrimejei, taciturno, enquanto pisava o acelerador e a velhinha perseguia o seu secreto desígnio.
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