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7.7.04

Rocìo

Apesar do nevoeiro e da impenetrável escuridão, eu sabia que alguém me seguia pelas ruas estreitas – e, àquela hora nocturna, desertas de seres viventes – de Córdova: as botas do perseguidor eram demasiado animosas para uma caçada silenciosa. Pressentido o perigo, a inteligência aguça, lembrei-me de ouvir dizer a minha avó nos serões invernais na costa da Cornualha. Invadi um providencial prostíbulo que encerrava a Calle de los Rubios e refugiei-me no corpo de uma andaluza de olhos tristes e seio farto, asseverado de uma restante noite cálida de prazeres e longínqua de perigos.

Acordei sobressaltado. O bom caçador nunca larga a presa, palavras sapientes do meu avô durante as caçadas a cavalo nos vales de Dorset. Rocìo, a puta, olhava fixamente o meu desespero, com aqueles olhos tristes da cor da terra, e glosou: “Falaste durante o sono, inglês. Não percebi uma única palavra mas sei que tinha a ver com caçadas (ou guerras), o som dos tiros é igual em todas as línguas”. “Escondi-me em ti porque me perseguiam, talvez para me matarem” – repliquei. A espanhola riu, como uma louca, e disse-me: “É uma boa razão para procurares uma mulher. Quando a morte é próxima os homens lembram-se sempre da mãe. E, nesse momento, todas as mulheres são mães, todas as mulheres são a salvação.”