Humans ´r us
Tinham acabado de lhe dizer que a humanidade era, toda ela, progénie de um hominídeo bípede que se acoitara no Corno de África com ânsia de expansão para o sobejo do mundo. Relutante, por ora ainda atordoado com tão ignóbil recado da ciência, pegou delicadamente no Livro da Verdade e leu com vagar as páginas preambulares, com receio de que tivesse, no seu íntimo pensamento, trocado ou esquecido as palavras que aprendera desde pequeno a bem-querer. Não, não havia fundamento para a sua inquietude, os termos vocabulares que se agrupavam formando frases, das mais belas que já lera, ainda eram os mesmos: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo.” Correu para o professor e de um fôlego separou-se das águas racionais que aquele exigia aos alunos que desejavam a aprovação na cadeira: “Vocês evoluíram mas nós, nós fomos criados”. Acabara de oblatar uma nova espécie ao mundo.
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