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8.11.10

Passeio Público

{Um carro sobre carris}
Os Belle Chase Hotel reúnem-se «para matar saudades» e acicatar a nostalgia dos fãs. Enfim, não surgirá um álbum novo mas alguns concertos com a formação original estão irreversivelmente garantidos. Em termos muito gerais, este será o tema principal nos próximos tempos – a bem-aventurança (com prazo de validade) terá início no próximo dia 12 (Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra).

O infortúnio é axiomático: não é possível habitar indefinidamente num microcosmo musical edénico, incomunicável e reservado. As asperezas da realidade destroem qualquer ensejo de sanidade. A tendência geral é a da perda ou da queda. A crise económica absoluta, que nos açaima tão confiadamente, não coíbe algumas figuras, ditas «com responsabilidade», de revelarem uma índole pouco rigorosa. De forma similar, certas organizações empresariais, com capital maioritariamente público (espaços sensíveis do perene recontro entre a honestidade e a ratonice), acumulam a desdita por inépcia e, em simultâneo, cultivam os terrenos férteis da impudência. Os exemplos são muitos, decerto, mas consideremos apenas o exemplo triste – e tão recente – da despesa com automóveis da Sociedade Metro Mondego (MM).

Asseguro-vos que meu horizonte mental se prolonga para além da MM. No entanto, o martirológio da empresa não cessa de me alvoroçar. Pouco tempo após o anúncio de agregação da MM à Refer, ficamos a saber que os maiorais da administração daquela preferem a BMW às carruagens do “Eléctrico Rápido de Superfície”. Para alguns, chegar à Lousã é fácil. Sabemos agora porquê: os carros parecem ter sido mais valorizados que os carris. É esta a ética empresarial que guia o país para os píncaros do sucesso? Não me parece.

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