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1.11.10

Passeio Público

{Pontapear um morto}
Quando jogo no Euromilhões – é cada vez mais raro – só excepcionalmente acerto em mais que uma estrela ou número. Posso confessar, sem mentir, que nunca ganhei mais do que oito ou nove euros no jogo que «faz excêntricos». Também não possuo uma habilidade especial para prever tempestades e muito menos quedas abruptas no mercado bolsista. Enfim, a máscara fulgente do oráculo não combina com a minha personalidade bisonha.

Infelizmente, há muito que adivinhei o terrível destino do Metro na cidade Coimbra. A demissão de Álvaro Maia Seco, presidente da Metro Mondego (MM) e vereador da Câmara Municipal de Coimbra (eleito pelo Partido Socialista), marca de forma indelével o acto final de uma comédia que se transformou irreversivelmente numa tragédia: para Coimbra, mas também para a Lousã, para Miranda do Corvo e para toda a região.

A proposta de Orçamento de Estado para o próximo ano, apresentada na última sexta-feira pelo governo de José Sócrates, determina a obliteração da MM e a sua inclusão na REFER. Na sequência da deliberação governamental, Maia Seco declarou que o projecto do metro ligeiro de superfície foi «ferido de morte» – também o creio. Contudo, não imputo ao actual governo socialista toda a responsabilidade pelo enredo deste reles folhetim. A culpa divide-se forçosamente por mais do que um incompetente.

A MM pisou trilhos dolorosos, e erráticos, modificando constantemente as estratégias que alicerçavam o projecto e tremendo perante os desafios mais insignificantes (quem não recorda as críticas ao traçado do metro por um grupo de “pais preocupados”?). Na realidade, a história do MM encontra-se desde o início (desde 1996!) sob a sombra da cruz. O governo, ao integrar a empresa na REFER, teve o descaramento de pontapear um morto. A iniquidade de uns não desculpa a agnosia de outros.
{22/10, no Jornal de Notícias}

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