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26.6.09

Michael Jackson (1958-2009)

Fiquem a saber que vivi muitos anos numa vivenda; uma casa grande, mas não excessivamente, com jardim e quintal, um à frente e outro atrás, aprazivelmente localizada. Fica tão perto da igreja como do cemitério, e um pouco longe do café da Otília - o que constitui, porventura, o seu maior defeito. Numa noite fria de Novembro do mais imemorial dos anos (foi, com toda a certeza, em 1983), rodeado de enigmáticos tomos empoeirados e de um aparelho de televisão Philips (a cores, sem comando à distância: a minha irmã ainda não andava), na véspera de uma excursão da catequese ao Aquário Vasco da Gama, vi com alguma relutância o videoclip dos mortos-vivos de Michael Jackson, morto-vivo que ainda ontem morreu. Coincidência altissonante: tocaram os sinos na torre da Igreja (e não passou a procissão) mesmo no final do vídeo, e nem sequer era hora disso acontecer. A minha mãe, na cozinha, fazia os bolos de bacalhau; o meu pai dormia; a minha irmã também; e eu cagava-me com medo. Este «cagava-me» é metafórico, julgo eu. Não dormi nada nessa noite e acabei por não ir, em alegre romaria, ao Aquário de Algés, o que me deixou um bocado aborrecido (meu Deus, aquela lula gigante...) e eternamente desagradado com o senhor Jackson. E é isto que tenho a dizer do rei da pop.

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