Farta disto
A garota foi-lhe às trombas. Não havia outra maneira de acabar com aquilo. Já lhe tinha acontecido outras vezes, no mesmo autocarro cheio de gente desmazelada e triste, de sovacos afastados de lavagens prudentes, com o mesmo rapaz saltitão, reguila e asselvajado, cinematográfico e rameloso. Ela via-o e já adivinhava o que iria, invariavelmente, desse por onde desse, com toda a certeza, acontecer. O rapaz gingão, bárbaro e grosseiro, teatral e circunspecto, estenderia o braço na sua direcção e, entre dois sorrisos abonados de gengivas, oferecer-lhe-ia uma rosa. Uma rosa. Nem mais, nem menos: uma pequena e frágil rosa, dita de Santa Teresinha. Desta vez foi diferente. A história levou outro caminho. A garota foi-lhe às trombas, já disse. Não havia outra maneira de acabar com aquilo. Uma rosa tem espinhos, é de lei, e aquela, por ser pequena e frágil, tinha-os mais afilados. Desta vez não ia chegar a casa com a mãozinha cheia de sangue e o coração apertado e submisso, preso naqueles sorrisos inteiros de telenovela brasileira.
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