<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d5676375\x26blogName\x3dD%C3%A6dalus\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://daedalus-pt.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://daedalus-pt.blogspot.com/\x26vt\x3d5394592317983731484', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

23.10.08

Passeio Público

(A lata de uma festa)

Setembro acabou há muito. Outubro fina-se daqui a pouco. Os regressos a Coimbra estão consumados. Os caloiros, amansados pela tosquia pateta da praxe, vivem já na esperança do festim académico que lhes há-de dar alguma trégua. Amanhã, tudo o indica, começa a Festa das Latas e Imposição das Insígnias. A Latada, como é carinhosamente reconhecida por família e amigos.

As mudanças anunciadas para este ano não escapam a um certo ar inofensivo de arrumo cosmético. Na Queima das Fitas, com certeza que se recordam, a adulteração foi maior, mais impositiva. Nem melhor, nem pior, afinal. A festa começa com a tradicional Serenata e alonga-se, interminável, por quase uma semana.

A Latada, para além de todos os excessos que a maculam, determina simbolicamente o reinício das aulas na Universidade de Coimbra. Sempre foi assim – pelo menos desde os anos de 1950. Todos os anos se renovam os gestos fundados por outros num passado mais ou menos distante.

Todavia, o passado já não existe – é com tristeza que o digo. É um porto a que não se volta. As pessoas consomem-se na nostalgia do que foram «aqueles idos tempos», afundam-se nessa esperança inútil de que o tempo volta para trás; e, no entanto, a vida pode ser mais simples e promissora que essas comemorações melancólicas e tudo o que as pessoas deviam fazer era olhar para o que têm defronte de si, para o desafio que as espera num episódio mais à frente.

A vida é uma sucessão ininterrupta de rezas e chavões, de datas festivas ou desprezíveis, de sementeiras e colheitas – até que, um dia, tudo acaba. Perante esse desfecho forçado, sobra ao homem o asilo na solidez da repetição.

Conscientes de que o futuro, afinal, se cava na terra e depois se tapa com mármores, as pessoas não gostam de fechar o ciclo que os afasta irremediavelmente do ventre inicial, não consideram, e muito menos apreciam, uma separação de toda a ilusão retrospectiva. Após as memórias, sobra o sorriso com mais ou menos incisivos, ou a lágrima furtiva dos sentimentais; e, não duvidemos disso, a mágoa dos dias como que se ressente ou, pelo contrário, cumula-se ainda de forças insuspeitadas.

Voltamos às latas. Ao entrechoque do passado semi-mítico com o presente interesseiro das cervejeiras. A festa reforma-se mas, aparentemente, é sempre a mesma. Pelo menos, este ano a última noite será para todos os estudantes – a Direcção Geral da AAC é magnânima. Portas abertas e utópicas: o «parque» acometido por todos; liberdade, igualdade e a outra que me escapa. Um desafio de cidadania. Uma voragem das injustiças académicas.

Talvez não – afinal, a Universidade ainda é uma cidadela mais forte que o Politécnico. O passado, afinal, não se corrige. A ideia é boa mas peca pela discriminação dos estudantes dos institutos politécnicos. Engasga-se na condição que separa uns que são mais, de outros que são, sem dúvida, menos. Para o ano há mais e pior. Alguém tem que conservar o pessimismo.
(Ontem, 22/10, no Jornal de Notícias)

Etiquetas: , ,