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26.6.08

Passeio Público

(De volta)

Finalmente, a cidade respira. Olha em frente. Arregimenta-se (é o que espero e desejo) em torno de um desígnio maior e avassalador. O projecto de candidatura da Universidade de Coimbra (UC) a Património Mundial da Unesco conheceu recentemente um impulso, categórico e resoluto, do Governo português. O primeiro-ministro José Sócrates, para além de avultar o contributo de um desígnio deste género para o sucesso económico da cidade, da região e do país, caucionou uma verba de 20 milhões de euros (a incluir no PIDDAC) que será empregue em três intervenções estruturantes na Alta de Coimbra e que constituem um indispensável sustentáculo da candidatura.

Desse modo, a edificação da nova biblioteca da Faculdade de Direito (na Casa dos Melos), o restauro do Colégio da Trindade (para nele assentar o Tribunal Universitário Judicial Europeu) e a construção do Centro de Interpretação e Divulgação da UC (no Largo dos Colégios) constituem uma porção fulcral da pretensão da Universidade, credibilizando-a e revelando toda a determinação e empenho das entidades que pleiteiam para que esta instância seja aceite pela UNESCO.

As palavras de Seabra Santos, o reitor da UC, confortaram-me, alijaram o desânimo que quase sempre me toma quando ouço falar nos “projectos” para Coimbra. É justo. O discurso exterioriza um anelo de renovação. Não só dos espaços físicos e do património intangível da cidade (as tradições académicas, a canção de Coimbra, etc.), mas também (sobretudo) da postura e da mentalidade dos habitantes da cidade. Para isso, Coimbra tem que se afastar definitivamente da sombra castradora da “velha” Universidade. Tem que reconhecer o valor do passado (obviamente) e, a partir dele, construir um novo caminho de inovação científica.

Ao contrário do que se possa pensar, a candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial da UNESCO não pretende transformar a Alta da cidade num museu. Eu gosto de museus, esses depósitos de reminiscências e consagrações póstumas. Porém, os museus guardam e exibem, na sua maioria, objectos inanimados ou coisas mortas. Não se pode cristalizar uma cidade, aprisioná-la num casulo onde o destino é uma imortalidade paralisada, suspensa.

A classificação da UC como Património Mundial é uma esperança, uma presunção de futuro, apenas se trouxer de volta a cidade, uma história nova. Algo que complete uma fantasia de futuro.

(Ontem, 25/06, no Jornal de Notícias)

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