O rei, outra vez
O Ministério da Cultura e a ministra da tutela, Isabel Pires de Lima, não autorizam a abertura do túmulo de D. Afonso Henriques, no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Os elementos que constituem a Comissão Científica de aconselhamento da Ministra da Cultura decidiram, em voz única, que os riscos de abrir o túmulo ultrapassam os benefícios que daí decorreriam. Uma decisão clássica, a opção pelo deixa estar, não mexas que podes estragar. Na realidade, uma decisão que apenas reflecte incidentalmente o imobilismo que perpassa a política cultural do ministério. Entretanto, Eugénia Cunha e a reitoria da Universidade de Coimbra vão contestar a recusa e, na próxima semana, vão enviar à ministra da Cultura uma contra-argumentação ao relatório da Comissão Científica com argumentos de natureza técnica, científica e arqueológica que, no juízo da antropóloga, legitimam o projecto.
No estudo da variação a partir de restos esqueléticos humanos a utopia é admissível: visibilizar o passado, resgatando as memórias incrustadas nos ossos que, metonimicamente, possuem uma relação objectiva, de contiguidade, com a realidade que foi – neles se conserva um vestigium vitae, um resquício de vida.
Os antropólogos não revolvem o passado e os seus despojos por anódina nostalgia ou patológica necrofilia, mas porque sabem que alguns aspectos pretéritos podem ser recuperados das furtivas reminiscências que os ossos em si cumulam. [para o Luís Januário, com um abraço]
[Dois excertos da minha tese de mestrado, em que fui orientado pela professora Eugénia Cunha. A professora orienta actualmente a minha tese de doutoramento.]
Etiquetas: antropologia, D. Afonso I, Eugénia Cunha
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