O espelho do homem – mais uma acha para a fogueira [texto grande mas que talvez valha a pena ler]
Os chimpanzés da floresta de Täi [Costa do Marfim] alimentam-se tipicamente em parties [subgrupos que deambulam independentemente num território comum em busca de alimento] flutuantes compostas por 7 a 12 indivíduos, permanecendo continuamente em contacto auditivo com a maioria da comunidade [cerca de 80 indivíduos]. Comummente, a comunidade divide-se em três grandes parties que podem comunicar entre si através de vocalizações ou de batidas. As árvores caídas são abundantes na floresta de Täi e os machos adultos percutem os troncos caídos com as mãos ou pés, poderosa e rapidamente, um comportamento designado “batida” [drumming].
A batida é uma forma de os machos comunicarem a sua posição a outros membros do grupo, informando-os da direcção de progressão do drummer. As sequências de percussão carregam três tipos de mensagem: alteração na direcção de viagem, proposta de período de descanso e simultaneidade de ambos os comportamentos anteriores, isto é, mudança de direcção após um período de descanso.
A definição do termo símbolo incorpora três asserções fundamentais: primeira, uma dissociação explícita entre o referente e o sinal que se refere a ele; segunda, a generalização do uso do sinal na ausência do referente [o displacement de Hoecht] e, terceira, a valoração comunicativa do sinal, que deverá informar acerca do comportamento subsequente do emissor e que, concomitantemente, poderá alterar o comportamento do receptor.
O sistema de comunicação dos chimpanzés de Täi faculta a troca de informação entre os membros do grupo, ou seja, é um sistema partilhado e que encerra um valor comunicativo. O sistema é arbitrário na medida em que a sequência de batidas não possui uma conexão directa com a noção de direcção ou de tempo. Todavia, não é totalmente arbitrário, mas sim icónico, já que o movimento efectuado pelo emissor entre as sequências relaciona-se directamente com a informação transmitida.
A manutenção deste sistema requer a sua compreensão pelos outros membros do grupo. De facto, os receptores encontram-se muitas vezes fora de contacto visual com o emissor e, desse modo, necessitam de visualizá-lo mentalmente e inferir o seu movimento subsequente a partir das suas batidas sequenciais.
As observações incidindo nos chimpanzés de Täi sugerem que condições ecológicas e sócio-psicológicas alicerçam a evolução da comunicação simbólica. Os chimpanzés em estado selvagem, vivendo em grandes grupos multi-macho, carecem de um compromisso entre a necessidade de dispersão para procurar alimentos e a necessidade de manter um contacto próximo, de forma a ressoarem uma réplica eficiente à súbita aparição de predadores ou grupos rivais. Este conflito de interesses numa floresta onde a visibilidade é escassa forçou-os a adoptar um sistema de comunicação acústica. Ou seja, sob o efeito combinado de visibilidade parca e elevada pressão predatória, os chimpanzés de Täi podem ter sido “forçados” a adoptar um sofisticado sistema de comunicação acústica que coordena os movimentos do grupo e que mantém a sua coesão.
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