<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d5676375\x26blogName\x3dD%C3%A6dalus\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://daedalus-pt.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://daedalus-pt.blogspot.com/\x26vt\x3d5394592317983731484', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

8.2.04

Primária

Eu era quase sempre o último a chegar ao recreio, por volta das 8:30h. Depunha a minha mochila no fim da fila encarreirada e juntava-me à malta que dava uns toques na bola de serapilheira, que a de couro, essa, só via a luz do sol em dia santo. Naquela manhã, porém, não se ouvia a chiadeira “passa a bola que eu finto todos e marco golo” no pátio deserto, os dois plátanos a fazerem companhia um ao outro. No dia claro, início do Verão, a miudagem que normalmente estaria no pátio a jogar à bola ou a saltar à corda, rumava aos magotes ao ribeiro para ver o espectáculo gratuito da morte. Mesmo ao longe pressenti a cena: a cadela, duas ou três crias aninhadas no ventre bojudo e semi-aberto e a lapuzada curiosa a berrar e a chorar enquanto a Dona Maria Luísa, professora daqueles quatro anos inesquecíveis, tentava em vão apartá-los dali. Pus-me a correr para lá, ansioso, o voyerismo a palpitar apressadamente nas minhas veias, o medo jugulando o meu passo de criança. Porra, o palco regurgitava espectáculo bárbaro. Foi duro ver os cãezinhos a putrificar, no ribeiro quase seco junto à escola. Os meus sete anos não aguentaram aquele cheiro a podre e os bichos larvares remexendo-se nos olhos dos caninos extintos. Aliei-me incondicionalmente ao coro que carpia aqueles inocentes. Nunca como quando se é criança se é tão vulnerável à possibilidade da morte, e agora sei que é mais difícil morrer quando somos crianças. Cheguei a casa, almocei, corri para o meu avô: “Enterra os cãezinhos avô, e depois dizemos uma oração”.