Joana
Danada cachopa. Sempre a reinar, desde que os primeiros alvores pubescentes se encarregaram de tornar aquele frágil corpo de menina numa mulher de truz. A cada novo baile novo homem. Aliás, como sempre vira fazer o pai com as mulheres. Não repudiou [nem podia] a herança ancestral, boa filha que era e cristã de cepa velha. Apesar de pândega nunca faltou com o caldito na mesa do velho nem com o ósculo afectuoso quando chegava ao tecto genitor e o sol já ia alto por trás da mata do senhor Conde. Transcorreram as primaveras, de homem em homem, biscate em biscate, amarguras sempre em crescendo, até que disse ao pai que estava de bebé. "Quem é que to fez, que se não casa contigo capo-o?". Vieram-lhe à ideia seis ou sete nomes, mas só lhe saiu um da boca matizada com batom barato. O velho não contemplou e, caçadeira em riste, lá obrigou o pobre de Deus a casar com a filha. No dia do conúbio duas velhas cobertas de negro, engelhadas e finórias, comentavam escondidas na sombra secular da capela de S. Justo, "Elas são umas doidas, são muito piores que eles."
O santinho-mártir, Justo, sorriu a Joana do cimo do altar, as bochechas de efebo a vermelharem de alegria. Exceptuando o pai e aquele que ia nascer, aquele toro de madeira moldado e pintado foi a coisa mais parecida com um homem que ela alguma vez amou.
O santinho-mártir, Justo, sorriu a Joana do cimo do altar, as bochechas de efebo a vermelharem de alegria. Exceptuando o pai e aquele que ia nascer, aquele toro de madeira moldado e pintado foi a coisa mais parecida com um homem que ela alguma vez amou.
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