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8.10.03

Panegírico da irrepetibilidade

Eis um dos vários clichés futebolísticos que me irrita sobremaneira: quem não marca sofre golo. Então e nos jogos que terminam empatados a zero, não há por vezes uma equipa que cria uma pletora de oportunidades de golo sem as concretizar e que, contudo, não é castigada com um ou mais golos imerecidos? Postule-se pois, emulando Jesus Cristo, leis matemáticas para a matemática e leis futebolísticas para o futebol; e dêem-se vivas ao apartamento dessas águas.
Os jogos de futebol (pelo menos os realizados no rectângulo luso) têm sempre 26 intervenientes directos (mais ou menos talentosos), mais ou menos 90 minutos de duração e, na sua orla, alguns espectadores mais ou menos bárbaros, controlo policial mais ou menos brutal e um conjunto de participantes mais ou menos excedentários, que inclui suplentes mais ou menos utilizados, treinadores mais ou menos competentes e dirigentes quase sempre deploráveis. Dentro do campo verde, nas quatro linhas (outro cliché), ganha sempre o F.C. Porto. A equipa que possui os jogadores e dirigentes mais habilidosos.
Mesmo assim, ainda não desisti de os ver perder. O irrepetível alcance das leis do futebol proporciona-me pelo menos isso. A esperança.