Passeio Público
(Dia de orçamento)
Amanhã é dia de Natal – e eu não devia esboçar um único pensamento sobre o orçamento da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), mas existe um dever para o homem cumprir e hoje a minha incumbência é essa: discutir criticamente o orçamento para 2009 da CMC.
Um orçamento, seja ele qual for, é sempre um “futuro” inscrito no papel. E esse “futuro” pode não ser o melhor possível. Aprovado pela maioria (PSD/CDS-PP/PPM) e olhado com desdém pelas oposições (PS/PCP/Pina Prata), o orçamento para o exercício de 2009 da CMC é, numa palavra, “despretensioso”. Desenganem-se os adeptos da pequenez e da singeleza: isto não é um elogio ao executivo que apresentou este orçamento.
O orçamento é “despretensioso” porque revela pouca audácia e, sobretudo, porque nele não se vislumbra qualquer medida estruturante que lide com a crise, no emprego ou na habitação, que afecta desde há muito a cidade de Coimbra.
Embora a dotação orçamental de áreas como a habitação (nomeadamente: a recuperação do centro histórico e a habitação social) seja relevante, não podemos deixar de assinalar a carência de obras significativas, de inequívoco valor estrutural, no tecido urbano da cidade. Parafraseando o vereador comunista, Gouveia Monteiro: há obras marcantes, mas são muito poucas. O Metro Ligeiro de Superfície é uma dessas obras – importante mas com a existência protelada; e um exemplo típico das baixas taxas de execução das obras previstas em orçamentos anteriores.
A resistência ao desemprego parece subsumir-se às ajudas ao iParque. O projecto do parque tecnológico afigura-se imprescindível para a reconfiguração económica de Coimbra e da região. Não obstante, o problema estrutural do desemprego não poderá ser resolvido com base em medidas circunscritas a um único pólo de desenvolvimento.
Amanhã é dia de Natal – mas isso, para o caso, é um pormenor desinteressante. O ano deixa-se ir, transpõe as páginas do calendário e, lentamente, é esquecido. O ano de dois mil e oito, quase morto e enterrado. Que Deus o guarde! O que virá depois?
(Quarta-feira, 24/12, no Jornal de Notícias)
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