O olvido e os hipócritas
Os americanos perderam a guerra na Indochina, saíram de lá à pressa, a correr para os Huey como se não houvesse amanhã. Eu escrevi Indochina porque os americanos não lutaram apenas no Vietname, também o fizeram no Laos e no Cambodja, qualquer um que tenha visto um filme do Chuck Norris sabe disto. No Laos, como no Vietname ou nas guerras índias [e.g., os Pima, de Ira Hayes, lutaram ao lado dos brancos], houve alguns nativos que lutaram do lado americano. Alguns não, uma etnia inteira: os Hmong. Até aqui, tudo mais ou menos normal. Numa guerra há sempre dois lados que se opõem, sejam eles os Troianos e os Dânaos ou os Commies e os Yankees. Com mais ou menos poesia é sempre assim. Só que, em 1973, no estertor da guerra - e ao contrário do que supostamente fazem os famigerados US Marines - os americanos deixaram alguns homens para trás, deixaram muitos homens para trás, e as suas mulheres, os seus filhos, as suas mães. Desde então o governo do Laos assassinou milhares de indivíduos da etnia Hmong. Cubro a cara de vegonha: um antropólogo sueco acredita piamente que o governo não está a matar de forma sistemática indivíduos de qulaquer minoria. Enfim, na antropologia, como em todas as disciplinas, há filhos de muitas mães. Os hipócritas do costume bradam - justamente - contra a ocupação do Iraque e da Palestina mas esquecem os Hmong, o povo de Darfur, os tchetchenos ou os tibetanos. Os americanos não andam por esses sítios a matar gente, portanto não vale a pena gritar por eles. O activismo selectivo é uma vergonha porque se submete a agendas políticas e não a razões humanitárias.
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