Passeio Público
Ontem, 03/01, no Jornal de Notícias
[Anos perdidos]
Acabou. O ano de 2007 é apenas um rumor de águas na consciência de alguns. O restolho da festa, sussurrando ainda o adeus ao passado, espraia-se desordenadamente pelo chão dos salões e pelas ruas adormecidas na solidão. O lixo da celebração. É ele que, primeiro que todos, dá as boas vindas ao ano novo. Todavia, a despedida de 2007 é intrincada e, sobretudo, embaraçosa. O país e Coimbra, em particular, resguardaram-se incompetentemente de ventos favoráveis nos trezentos e sessenta e cindo dias agora findos. O ano transacto não pode ser esquecido. Não foi grande coisa, convenhamos.
Mais uma vez, mais um ano. A divergência em relação à Europa. A falta de competitividade da economia. Os problemas na justiça e na educação. A precariedade no emprego. O desemprego. Sobretudo, o desemprego. O país acha-se nu sem as vitórias de Pirro do futebol (para o ano, na Áustria e na Suiça, há mais). Resta-lhe o orgulho do anfitrião incansável e educado: a cimeira Europa-África, a assinatura do Tratado de Lisboa, a presidência da União Europeia. Uma paisagem histórica interessante mas de parca relevância e vantagem para o dia-a-dia de cada um de nós.
De volta a Coimbra: era aqui que eu queria chegar. Coimbra, a cidade que parece não querer ver-se a viver. Que tem medo de descobrir as suas imperfeições, os seus defeitos. Eu preferiria documentar apenas (e só!) o que de bom aconteceu em Coimbra durante o ano de 2007, mas infelizmente isso não ia chegar para adorno de mais que duas ou três frases. Muito pouco. Assim, resta-me lembrar o descaminho que a cidade vem tomando e que, no ano findo, apenas se acentuou.
A inflexível erosão: o tempo. Este começa a escassear. Quando faltam dois anos – apenas – para as próximas eleições autárquicas, Carlos Encarnação e o actual executivo camarário têm que fazer pela vida. Senão, a vida passa-lhes ao lado. E a cidade com ela. Reclama-se obra sólida, palpável. As remodelações da fachada só em programas de televisão são do agrado das gentes.
Em 2008, talvez as obras do Metro Ligeiro de superfície arranquem resolutamente, com a força de um desígnio preparado para fluir da utopia do papel para as agruras da realidade. Esperemos para ver. Entretanto, a destruição de uma parte substancial do núcleo medieval da Baixa é irreversível. A insegurança nesta mesma zona da cidade vai ser desafiada pela disseminação de câmaras de vídeosegurança. Oportunidade perdida, com certeza. Mais uma experiência de “Big Brother” que não tem a capacidade, por si só, de deter a criminalidade numa área repudiada da cidade, habitada quase em exclusivo por sombras e ratos. Orçamentou-se tristemente a cultura. Esperam-se os milagres do vereador do pelouro, Mário Nunes.
Não se espere a criação de emprego no Concelho ou o decremento do preço da habitação. Ou a escrupulosidade e firmeza das contas camarárias. É pedir demais a um ano só.
[Anos perdidos]
Acabou. O ano de 2007 é apenas um rumor de águas na consciência de alguns. O restolho da festa, sussurrando ainda o adeus ao passado, espraia-se desordenadamente pelo chão dos salões e pelas ruas adormecidas na solidão. O lixo da celebração. É ele que, primeiro que todos, dá as boas vindas ao ano novo. Todavia, a despedida de 2007 é intrincada e, sobretudo, embaraçosa. O país e Coimbra, em particular, resguardaram-se incompetentemente de ventos favoráveis nos trezentos e sessenta e cindo dias agora findos. O ano transacto não pode ser esquecido. Não foi grande coisa, convenhamos.
Mais uma vez, mais um ano. A divergência em relação à Europa. A falta de competitividade da economia. Os problemas na justiça e na educação. A precariedade no emprego. O desemprego. Sobretudo, o desemprego. O país acha-se nu sem as vitórias de Pirro do futebol (para o ano, na Áustria e na Suiça, há mais). Resta-lhe o orgulho do anfitrião incansável e educado: a cimeira Europa-África, a assinatura do Tratado de Lisboa, a presidência da União Europeia. Uma paisagem histórica interessante mas de parca relevância e vantagem para o dia-a-dia de cada um de nós.
De volta a Coimbra: era aqui que eu queria chegar. Coimbra, a cidade que parece não querer ver-se a viver. Que tem medo de descobrir as suas imperfeições, os seus defeitos. Eu preferiria documentar apenas (e só!) o que de bom aconteceu em Coimbra durante o ano de 2007, mas infelizmente isso não ia chegar para adorno de mais que duas ou três frases. Muito pouco. Assim, resta-me lembrar o descaminho que a cidade vem tomando e que, no ano findo, apenas se acentuou.
A inflexível erosão: o tempo. Este começa a escassear. Quando faltam dois anos – apenas – para as próximas eleições autárquicas, Carlos Encarnação e o actual executivo camarário têm que fazer pela vida. Senão, a vida passa-lhes ao lado. E a cidade com ela. Reclama-se obra sólida, palpável. As remodelações da fachada só em programas de televisão são do agrado das gentes.
Em 2008, talvez as obras do Metro Ligeiro de superfície arranquem resolutamente, com a força de um desígnio preparado para fluir da utopia do papel para as agruras da realidade. Esperemos para ver. Entretanto, a destruição de uma parte substancial do núcleo medieval da Baixa é irreversível. A insegurança nesta mesma zona da cidade vai ser desafiada pela disseminação de câmaras de vídeosegurança. Oportunidade perdida, com certeza. Mais uma experiência de “Big Brother” que não tem a capacidade, por si só, de deter a criminalidade numa área repudiada da cidade, habitada quase em exclusivo por sombras e ratos. Orçamentou-se tristemente a cultura. Esperam-se os milagres do vereador do pelouro, Mário Nunes.
Não se espere a criação de emprego no Concelho ou o decremento do preço da habitação. Ou a escrupulosidade e firmeza das contas camarárias. É pedir demais a um ano só.
Etiquetas: jornais
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