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7.12.07

Passeio Público

Quarta-feira, 06/12, no Jornal de Notícias
Não foi há muito tempo. O que são nove anos na longa e atribulada história da espécie a que Lineu destinou o pretensioso nome de Homo sapiens? Estávamos no Outono do ano de 1998 e, quando Pedro Souto e João Maurício encontraram os restos ósseos de uma criança no Vale do Lapedo (Leiria), poucos teriam o arrojo de prever que a descoberta iria alterar tão intimamente a infinda e entranhada controvérsia em redor da origem biológica do homem anatomicamente moderno.
Diga-se, antes de continuarmos com a história da criança do Lapedo, que uma das inquietações essenciais da humanidade, desde os tempos mais recuados, foi a averiguação das suas origens (evoquemos ainda Lineu e a sua divisa nosce te ipsum, "conhece-te a ti mesmo"). Os textos bíblicos, designadamente o Génesis, configuram essa preocupação. Não obstante, falamos aqui de ciência e não de crença. De uma discussão situada em paisagem crítica e racional. De como a paleoantropologia confronta e interpreta uma sequência de eventos cronologicamente situados que transmudaram, através de eventos evolutivos, um macaco num homem.
Qual é, pois, a importância da criança do Lapedo para o conhecimento de nós mesmos? O esqueleto da criança foi descoberto num resguardo rochoso do Vale do Lapedo, denominado Abrigo do Lagar Velho, perto da cidade de Leiria. A criança, de sexo indeterminado, morreu com cerca de quatro de anos de idade. Junto ao corpo, possivelmente envolto numa mortalha pigmentada de ocre, foram encontrados alguns elementos com manifesto valor simbólico. Estes factores, articulados com a antiguidade dos restos esqueléticos (cerca de 25.000 anos), bastavam para garantir uma importância excepcional a esta sepultura.
Todavia, a atenção científica e mediática rendeu-se quase exclusivamente à hipótese colocada pela equipa que escavou e estudou a criança do Lagar Velho. Concisamente, a hipótese sugerida supõe que esta criança exibe um mosaico de características morfológicas que redundou de uma miscigenação - ou hibridização - regular entre Neandertais e Cro-Magnons (os Homo sapiens, anatomicamente modernos), durante a fase terminal da existência Neandertal na Europa. Como seria de esperar, a comunidade científica reagiu imediatamente a esta alusão de "mestiçagem" criticando ou aplaudindo, conforme a dúctil e variável acomodação dos dados às ideias que cada cientista tem sobre o assunto.
Convém, talvez, dizer que a maior parte dos traços desta criança são modernos mas que outros, como a proporção dos membros, assentam no espectro de variação Neandertal. Não existe, ainda, consenso em relação à sua ancestralidade. A reconstrução facial da criança, apresentada na última semana, mostra-nos um indivíduo tão estranho que parece o resultado do cruzamento de um extraterrestre com o maléfico Chucky. É claro que, para o leitor, todos os dados empíricos se tornam irrelevantes perante a ficção. A realidade, dizia Borges, não tem a mínima obrigação de ser interessante. E poderá haver algo mais interessante que a possibilidade de amor entre duas humanidades alternativas, exactamente no âmago do nosso país?

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