Define “Homem”. Define “Melhor amigo”.
Ao folhear o dicionário cortejo displicentemente a palavra “misantropo”, reveladora vocabular dos fiapos da minha vida. Odiei tanto os homens que pedi um cão ao meu pai. Aquiesceu. Gosta de mim, assenti. Nessa mesma noite conheci o Noki, um globo de pelo e baba, excrescendo duas orelhas e quatro patas. Crescemos juntos, crescemos bastante, apesar das nossas raças bastardas. O meu corpo glabro, o corpo felpudo do Noki, consciências biunívocas, amálgama de amor inter-específico. Um dia fui embora para estudar noutra cidade. Voltei, cinco dias depois, num domingo de beatífica sobriedade. Noki pressentiu a minha chegada, acercou-se da varanda. Sei que, desde que me recordo, vivo num intenso 5.º andar, inesperadamente rodeado de jardins [e por muita gente de bem, como costuma dizer o meu pai]. O cão não esperou que eu subisse e rompeu dos firmamentos para os meus braços. À nossa volta sussurraram as árvores, Porque ninguém nos ama assim?
Etiquetas: pathos
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