De Saddam a Michel
Em catadupa começam a chegar a mim, via email, as imagens da execução de Saddam Hussein. A inequívoca repulsa moral em relação à pena de morte, sem mas [como dizia José Pacheco Pereira, que, pelos vistos, agora se retratou], não me abriu caminhos a qualquer visionamento do filminho gore obtido por telemóvel. Imaginava, até agora, a execução capital como um duplo descaminho de supressão da dor e anulação do espectáculo. Foucault, obviamente, foi o culpado por esta minha visão inocente da modernidade:
"[...] o corpo do supliciado é escamoteado; exclui-se do castigo a encenação da dor. Penetramos na época da sobriedade punitiva." [Vigiar e Punir, pág. 16]
Palavras prisioneiras do tempo e do regresso da história, agrilhoadas a um topos estacionário [o livro] mas rodeadas por um contexto fluído, poroso, retornário*. Michel Foucault, em Vigiar e Punir, descrevia, indubiamente, uma modernidade diferente da nossa.
* Parece-me bem, o neologismo :-)
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