Cheiro
O temor do novato refugia-se num dos bancos traseiros do autocarro velho e malcheiroso, carroça inóspita de vivências em trânsito e alambique experimentado de higienes frustradas. Repouso atrás de um paquistanês – ou talvez indiano, com certeza advogado, denunciado pela fulgente pedra anelar – que lê um daqueles “capas moles” da Penguin, de título ignoto e autor de nome impronunciável. Solidário com os maus ares, o homem cheira mal. Muito mal.
Na gare iluminada, horas depois, procuro um ponto remansoso entre a multidão de passantes. Não vislumbro lugares sentados. Procuro um pouco mais e sou recompensado com uma cadeira aconchegada. Coincidência odorífera: sento-me ao lado do indiano – ou paquistanês – do Penguin. Continua a cheirar mal. Mas agora tem a família com ele: uma esposa jovem e bonita e três filhos – rapazes – que brincam no chão quase imaculado da estação, descansando por vezes para abraçar a mãe ou o pai, à vez, sem favoritismos.
Aspirei o ar cerrado da gare. O mau cheiro dissipou-se na felicidade de um momento como aquele.
Na gare iluminada, horas depois, procuro um ponto remansoso entre a multidão de passantes. Não vislumbro lugares sentados. Procuro um pouco mais e sou recompensado com uma cadeira aconchegada. Coincidência odorífera: sento-me ao lado do indiano – ou paquistanês – do Penguin. Continua a cheirar mal. Mas agora tem a família com ele: uma esposa jovem e bonita e três filhos – rapazes – que brincam no chão quase imaculado da estação, descansando por vezes para abraçar a mãe ou o pai, à vez, sem favoritismos.
Aspirei o ar cerrado da gare. O mau cheiro dissipou-se na felicidade de um momento como aquele.
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