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30.11.08

Um dia assim



E agora vou andando que o tempo por aqui está feio. Para onde vou é tudo muito lindo, dizem, mas eu sou daqueles que têm que ver para crer, como São Tomé e Príncipe. Até logo.

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28.11.08

Estéticas da Morte #quarenta e três

Ainda hoje recordo aquela manhã mortiça, de chuva miúda e gente resfriada – os vagares da velhice não me intimidam ainda a memória. Fui ao banco com um trapo azul na cabeça. Mendiguei o dinheiro do cofre estendendo a mão armada. A menina da caixa assustou-se, era esperado, vozeou alto os seus lamentos e desesperos. Surgiu a guarda, de trapos cinzentos, as mãos preparadas com a G3. O meu julgamento vacilou, os meus braços nem por isso. Matei um, dois, todos. Fugi, pernas para que vos quero, escapuli-me para longe. Não me livrei da consciência. Entreguei-me no posto. Quase que me mataram de pancada. Era esperado.

A mão da justiça não foi misericordiosa. Poupou-me para que viva apenas na morte dos outros.
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E vive


Odeio viagens e exploradores.
(Claude Lévi-Strauss nasceu a 28 de Novembro de 1908)

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27.11.08

Passeio Público

(As catedrais)

1. Uma das características menos interessantes dos seres humanos é a capacidade de esquecer coisas tão valorizadas como as noites que ficaram para trás, o almoço de anteontem ou o nome do lateral-esquerdo da equipa da Académica que perdeu a final da Taça de Portugal em 1969. Uma desgraça. O esquecimento não devia ser um privilégio da humanidade.

Há uns tempos, numa arrojada encosta do Douro, entre um abraço assustadiço e as curvas fugazes da água, espessou-se o mistério escolástico; então, na proximidade da queda, os ritos intransigentes da velha religião voltaram a fazer sentido – o que fazer, senão rezar, quando o abismo é quase uma certeza a despedaçar o espírito? A memória, e não o esquecimento, certifica a nossa segurança. Foi a sentença moral que retirei daquela experiência.

Quase todas as igrejas são antigas e velhos são os ritos que lhes excedem os umbrais. Os séculos afinam o estilo, muitas coisas são esquecidas e poucas acrescentadas. O préstito e a palavra apuram com o tempo, espécie de azeite gourmet, como sói dizer agora. A Sé Velha de Coimbra, o nome não engana, é feita de pedra antiga e honrada. Pouco tempo depois da batalha de Ourique (os fados, enfim, apiedavam-se de D. Afonso I) principiaram os trabalhos de construção da igreja, fortalecida de espírito e de grossas paredes. O retábulo gótico da Sé, antigo de 500 anos, dignifica o templo e justifica a festa destes dias.

Para a solenidade do momento recupera-se um rito desmemoriado: a liturgia moçárabe. As paredes atarracadas da igreja parecem menos frias, há uma desarrumação de cores, um odor crestomático denuncia um abraço passado, um lugar utópico de coabitação de culturas. Coimbra moçárabe, Coimbra multicultural: a prática antes do conceito. Cristã, judia e moura.
Os dias eram outros. Melhores ou piores, não interessa. A vida é mais fácil quando a imaginação substitui a realidade (defeito de um sentimental).

2. No estádio Finibanco - é assim que se chama? – o espectáculo está garantido. Se não for no relvado ou nas bancadas, há-de ser nos corredores da administração. A Académica/OAF e a TBZ arranjam sempre matéria para desentendimentos (a concórdia nunca ficou bem em estádios de futebol). Desta vez, até a polícia foi convocada para a bernarda. O problema, obviamente, foi o dinheiro. O bago, o pilim. O numerário, sacrossanto interesse de ambas as partes. A relação entre o clube e a empresa, sempre frágil, encrava definitivamente, engasga-se em paroxismos derradeiros de condenado. Não se esperava outra coisa.
(Ontem, 26/11, no Jornal de Notícias)

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26.11.08

Elogio a Amadeu Baptista

É possível, e até desejável, esquecer o homem. A humanidade é uma ideia frágil, frustrada entre as enguias dos nossos dedos. Saio de casa de manhã cedo - eis o destino dos mais fortes! -, escuto a poesia comovida dos passos amanhecidos em cansaços eternos, recomeço o dia seguinte.
O dia alonga-se para além das árvores, encontra-se nesse grande vegetal vivo lenhoso. É uma espécie rara de palavra inabitável. Os homens tocam-se aconchegam-se nas sombras e esquecem.

Não te esqueci. Foste-me oferecido a dois tempos, um ruído crestomático vagamente sitiado diluído num velho motor de motorizada. Como um dízimo pago na derradeira luz, também tu foste peremptório. É mais fácil esquecer as palavras que a infinita pequenez de uma alma.

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Valsa

É Setembro em Viena./Pequenas cintilações abrem as portas/dos imensos salões/e ao som da valsa/podemos perceber qual a diferença/entre um roçagar furtivo/e o tremor de terra.
(Amadeu Baptista, O bosque cintilante, pág. 75)

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Getsemani

A minha solidão é insuportável, mas nada faço contra tantas moedas.
(Amadeu Baptista, Sobre as imagens, pág. 45)

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25.11.08

Estéticas da Morte #quarenta e dois

A música que se ouve é má (aliás, é o que vocês acharem que é): um standard de jazz, tão frequentado que se tornou irreconhecível. O café, embora ligeiramente mais caro que nas pastelarias de referência, não é péssimo: líquido, negro, só lhe falta ser saboroso. Cuido das coisas à minha volta, um olhar à paisana nunca fez mal a ninguém. Abro a boca, deixo escapar mais um bocejo. O dia começa à espera. Detesto as pessoas. Reconforta-me a ideia que um dia elas vão morrer. Espero, sem desesperar. Um dia, todas elas, mortas, o ouro sobre o azul. A terra sobre a tristeza.
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24.11.08

Gangrena

É o último Outono e adensa-se o espectro da perda. O mundo (e mesmo os plátanos da praça) encontra-se nu e despido, de calças em baixo, pelo menos, indecidido quanto ao borboto de velhas lãs e aos cabelos próprios dos homens. A igreja abriu-se aos ritos antigos e não vejo nisso um regresso ao passado. Essa ideia (uma ideologia redentora) botou assento nos dias da outra outra outra senhora, talvez nos currais dos primeiros dias do Cão, fincou lá o pé, bem fundo, com denodo de partizan, e agora é difícil regressar ao presente, seja lá o que isso for.

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20.11.08

Italian Music #seven

Violent Femmes - Gone Daddy Gone

(Beautiful girl lovely dress/ Where she is now I can only guess)

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Passeio Público

(Má educação)
Não quero parecer derrotista ou, pior ainda, moralista, mas não consigo deixar de pensar que a “educação”, esse desígnio maior do país, tocou o céu da ingovernabilidade. Quando uma ministra (da educação; mas isso, para o caso, é indiferente) de uma sociedade que se conta, ditosa e satisfeita, como democrática e livre, é recebida por estudantes adolescentes com uma saraiva de ovos revelam-se, de forma contundente, todas as falhas educativas de um país. Pior: demora-se no ar a ideia de que a civilização está prestes a desistir de si mesma. Mas isto, suponho, é apenas o cisma de um notório pessimista.

A reforma do ensino é necessária – e premente. Eis um facto indisputável. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, deixou-se seduzir por esse trabalho de Hércules mas falhou o desígnio reformista. É voluntariosa mas arrogante. É sensível aos dados estatísticos mas não aos anseios (legítimos, alguns) dos professores. Os problemas mais relevantes do sistema educativo não só se conservam como parecem agudizar-se a cada dia que passa.

A escola tornou-se numa instituição burocrática, desistindo da sua tarefa sacrossanta: a formação. O ensino público deteriora-se, ano após ano. É o que informa a louvada estatística. Mesmo na Secundária Infanta Dona Maria, em Coimbra, a escola pública com o melhor desempenho nos exames nacionais nos últimos dois anos, a percepção geral entre os alunos é a de que a qualidade do ensino está a decrescer.

Os alunos, a razão e o móbil do sistema, parecem esquecidos no meio do vórtice aniquilador em que se tornou a educação. Os alunos, a sua instrução e ensino, revelam-se a premissa menos importante no coração da luta que opõe o Ministério da Educação e os professores. Podem esforçar-se ou, ao invés, baldar-se, que passam na mesma. As reprovações foram chumbadas, subjugadas ao valor maior das estatísticas.

Sejamos justos: a avaliação dos professores é absolutamente necessária. Como aluno, investigador e professor fui, sou e serei avaliado – sem temores de inépcia própria ou farsas de “drama queen”. Acredito sinceramente que a maioria dos professores deseja uma avaliação. A que é imposta pelo Ministério? Não. E não é preciso aprofundar o tema, basta lembrar que um dos critérios da avaliação proposta é o insucesso escolar, um factor que não depende somente do desempenho dos professores. Uma avaliação assim é arbitrária e inconsequente.

Entretanto, as generalizações deambulam alegremente pelas bocas do país. Maria de Lurdes Rodrigues é petulante e insensível. Os professores são incompetentes e não querem ter muito trabalho. Os alunos são preguiçosos e mal-educados. Os sindicatos são como cães que dormem em cima do feno: não o comem, nem o deixam comer. Parece-nos que todos têm a razão, ao mesmo tempo que a não têm. Lembremo-nos, porém, que o mundo não é a preto e branco.
(Ontem, 19/11, no Jornal de Notícias)

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19.11.08

Estéticas da Morte #quarenta e um

Esta é a verdade: não preciso de um MacGuffin. Preciso de um morto. Um morto que, vá lá, pode até chamar-se MacGuffin (ou Zé).

Temos, portanto, um morto que se chama MacGuffin (ou Dina). Falta uma história para este morto: quem é?, como morreu?, porque foi morto?, quem o matou?*

Não interessa. Temos um morto e isso basta para que todas as histórias sejam possíveis**.

*Tentar responder por esta ordem, sff.
**Menos aquelas que metem extraterrestres e plantas assassinas.
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18.11.08

80 anos

(Plane Crazy - 1928)

O rato Mickey: o mais miserável ideal alguma vez revelado… As emoções saudáveis dizem que o sujo e emporcalhado verme, o maior portador de bactérias que cruza o reino animal, não pode ser o tipo ideal de animal… Acabemos com a brutalização judaica do povo. Abaixo o Rato Mickey!
(Artigo de jornal, Alemanha, 1935)

O ratito, mesmo com o seu ar de convencido, merece o nosso aplauso sincero. O João Bafo de Onça, o Mancha Negra ou os Nazis são todos a mesma coisa: bandidos desprezíveis. Parabéns velhote!

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Suspensão temporária da democracia

E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia. (...) Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia... (...) Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se.
(Manuela Ferreira Leite)

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O «menino» do Lapedo: 10 anos depois

Recensão publicada na revista Antropologia Portuguesa (2007, n.º 20)
Aguiar, João. 2006. Lapedo: Uma Criança no Vale. (Colecção: Obras de João Aguiar). Porto, ASA. 189 p. ISBN 972-41-4871-8. € 14

Quando os arqueólogos Pedro Souto e João Maurício descobriram os restos ósseos matizados de ocre de uma criança no Vale do Lapedo (Leiria), no Outono do ano de 1998, poucos teriam a ousadia de esperar que o achado ia transformar tão profundamente a perene e visceral discussão em redor das origens do homem anatomicamente moderno[1]. O esqueleto da criança, razoavelmente completo, foi encontrado num abrigo rochoso do Vale do Lapedo, denominado Abrigo do Lagar Velho. A criança, de sexo indeterminado[2], morreu com cerca de quatro anos de idade. O corpo, possivelmente envolvido numa mortalha pigmentada de ocre, foi deposto na sepultura com a cabeça voltada para leste e os pés para oeste. Adstritos aos restos ósseos foram encontrados alguns elementos animais e adornos, com inequívoco valor simbólico.

Estes factores, associados à antiguidade dos remanescentes esqueléticos (cerca de 25.000 anos), bastavam para creditar uma importância extraordinária a esta sepultura do Paleolítico Superior. Contudo, o interesse científico e mediático abandonou-se quase em exclusivo à surpreendente hipótese colocada pela equipa que escavou e estudou a criança do Lagar Velho (que incluía, entre outros, João Zilhão, Erik Trinkaus e Cidália Duarte). Resumidamente, a hipótese proposta por este grupo de cientistas admite que esta criança exibe um mosaico de características morfológicas que resultou, supostamente, de uma miscigenação regular entre Neandertais e Cro-Magnons, durante a fase crepuscular da existência Neandertal na Europa[3]. Como seria de esperar, esta revelação atordoou a comunidade científica, que prontamente lhe reagiu (com um tropel de criticismo ou afinando panegíricos, conforme o paradigma seguido). De facto, o menino do Lapedo cedo se tornou em mais um manancial de discórdia na questão da origem do homem moderno, a mais velha controvérsia no seio da paleoantropologia[4].

Dos escombros de uma contenda que se mantinha mais ou menos confinada nos limites estreitos da comunidade científica surge Lapedo: Uma Criança no Vale, uma obra do romancista e jornalista João Aguiar (autor de uma vasta produção ficcionada, na qual se incluem obras como O Comedor de Pérolas, A Hora de Sertório e Inês de Portugal), que pretende divulgar a importante descoberta do Abrigo do Lagar Velho – sem a secura da nomenclatura científica ou a superficialidade do aparelho mediático jornalístico.

O prólogo do livro de João Aguiar é, conscientemente, ficcionado a partir de circunstâncias factuais, designadamente a morte e enterramento ritual de uma criança. Partindo desta conjuntura, o autor entretece uma “história possível e triste”[5] em redor dos dramáticos eventos que culminaram na morte do menino do Lapedo. Aos qualificativos possível e triste eu acrescentaria ingénua e inverosímil: o relato da perseguição de um tentilhão pelo menino e do seu funesto zénite é infantil – mas sem o brilho dos contos para crianças dos irmãos Grimm ou de Edith Nesbit – e desprovido de qualquer base científica. Mas Aguiar é honesto nas suas intenções: se o livro, como um todo, não pretende ser um romance (pretende revivescer a memória do que foi a história da descoberta da criança); neste preâmbulo, a ficção funciona apenas como estratégia de introdução na narrativa de um facto indisputável: a morte de uma criança de quatro anos, inumada no vale do Lapedo há cerca de vinte e cinco mil anos. O propósito explícito de resgatar a história do menino do Lapedo do círculo restrito da arqueologia e da paleoantropologia, divulgando-a entre não iniciados, reclama um inevitável aligeiramento dos dados académicos, opacos e indestrinçáveis para o leitor insciente e furtivamente interessado nestas áreas do saber. Desse modo, a insistência de João Aguiar em confessar, de forma clara, a amenização e tempero dos dados científicos com “alguma especulação” (se quisermos ser eufemistas) – relembrando-nos, talvez inconscientemente, que “a realidade não tem a mínima obrigação de ser interessante”[6] – valida a intenção do autor em tornar inteligível esta descoberta científica e também de a tornar mais atraente e sedutora ao olhar inexperiente do leigo.

Não obstante o prelúdio ficcionado, neste opúsculo o romancista cede um amplo espaço ao vero episódio histórico que constituiu a descoberta, no Vale do Lapedo, de uma sepultura com cerca de 25.000 anos. O autor reconhece que esta não é uma obra de ficção, não é um conto, é uma descrição dos factos colorida com algumas reflexões do próprio Aguiar, por vezes pseudo-científicas e heterodoxas. Como escreveu Aquilino Ribeiro n’A Casa Grande de Romarigães[7], se “no romance, o escritor escolhe os episódios; na história, são os episódios que se lhe vêm oferecer” e o autor de Lapedo: Uma Criança no Vale, embora sucumbindo por vezes à tentação de especular sobre os factos e mesmo de os subverter através da ficção, enredou uma narrativa que constitui uma apresentação válida e prestimosa às circunstâncias científicas que envolveram a descoberta, o estudo e a divulgação da sepultura do Abrigo do Lagar Velho.

Os episódios da história começam, pois, a ser revelados: no primeiro capítulo (“25 Mil Anos Depois”) João Aguiar dá uma ênfase compreensível às circunstâncias especiais – quase míticas – que rodearam a descoberta da sepultura do Vale do Lapedo e que envolveram retroescavadoras, bofetadas em alunos desobedientes, protestos de grupos ambientalistas e uma tese de licenciatura. A escavação de emergência, minuciosa e detalhada, imediatamente preparada por João Zilhão e levada a cabo por Cidália Duarte e Ana Cristina Araújo, contrasta com a sucessão de acasos que motivaram o precioso achamento. O autor refere também o inevitável e crescente interesse do público e dos media sobre os acontecimentos que se iam desenrolando no Abrigo do Lagar Velho. Incidentalmente, Aguiar pontua o texto com a narração sucinta de factos jocosos envolvendo os membros da equipa de escavação, por exemplo:

“(…) numa das paragens (…) para reabastecer o carro de combustível, João Zilhão, ao regressar ao automóvel, depois de ter efectuado o pagamento, tão absorto estava na questão que entrou na viatura errada, um automóvel que se encontrava estacionado a certa distância do seu.”[8]

A intercalação episódica destas pequenas histórias, para além de aliviar a densidade dos factos arqueológicos e paleoantropológicos, alimenta no leitor um sentimento de empatia para com os investigadores e, concomitantemente, para com as hipóteses científicas que defendem. O que, parecendo inócuo, não o é totalmente.

No capítulo seguinte (“Casus Belli”), o escritor introduz definitivamente na narrativa a teoria de que a peculiar morfologia esquelética da criança do Lapedo resultou de trocas génicas intensivas entre Neandertais e homens anatomicamente modernos (o primeiro capítulo termina com uma breve alusão a esta hipótese, formulada inicialmente por Erik Trinkaus). Nesta fracção do texto, Aguiar pormenoriza a teoria da hibridização, define e expõe os factos que a fundamentam e estabelece, também, uma área narrativa para o contraditório. Todavia, a posição do autor não é a do observador neutral. João Aguiar escolhe campo: do lado dos que defendem a origem mestiça[9] do menino. Mas, diga-se justamente, a sua inclinação não se dissimula na clandestinidade e o escritor assume de forma inequívoca o seu proselitismo. Como exemplo, no capítulo 6 (“Pensando Sobre o Assunto”), Aguiar escreve:

Embora parte da comunidade científica ainda não aceite esta hipótese (da miscigenação), penso que, tendo em consideração todos os argumentos contra e a favor, é legítimo tomá-la como um dado adquirido (…).[10]

Nos capítulos “Ritual, Et Caetera” e “O Discurso dos Sedimentos” as temáticas abordadas são bem mais consensuais. Aguiar foca a sua escrita no ritual de enterramento da criança do Lapedo, considerando-o no conjunto de enterramentos rituais no Paleolítico Superior; e nas condições climáticas, geológicas e ecológicas do Vale do Lapedo há vinte e cinco mil anos. Nos capítulos subsequentes (“A Leitura Simbólica” e “Pensando sobre o Assunto”), o escritor conduz novamente a narrativa para o campo da especulação consciente. O capítulo 6 (“Pensando sobre o Assunto”), sobretudo, inclui uma série de imprecisões científicas e algumas reflexões algo perturbantes. Refira-se, nomeadamente, o encadeamento da presumível mestiçagem da criança do Lapedo com a inclinação nacional de ir “para a cama com toda a gente” [11] e de criar comunidades mestiças em diversos pontos do antigo império colonial português. Este modelo anacrónico de luso-tropicalismo, adoptado pela propaganda do Estado Novo, é inaceitável do ponto de vista da antropologia coetânea.

Lapedo: Uma Criança no Vale insere-se numa longa tradição de obras de vulgarização científica. Escrito por um romancista, fecunda-se das qualidades e lacunas que decorrem dessa condição de surgir da pena de alguém que não provém dos domínios da arqueologia ou da paleoantropologia. A divulgação científica é parte elementar do processo de conhecimento do mundo e, desse modo, o livro de João Aguiar constitui um importante e prático roteiro (apesar de, por vezes, pecar pela propensão especulativa do autor) de introdução a uma das mais importantes descobertas arqueológicas alguma vez feitas em Portugal.

[1] Zilhão, J.; Trinkaus, E. 2002. Portrait of the Artist as a Child: The Gravettian Human Skeleton from the Abrigo do Lagar Velho and its Archaeological Context. Lisboa, Instituto Português de Arqueologia, p. 9.
[2] No entanto, e apesar das dificuldades metodológicas da categorização sexual em esqueletos juvenis, esta criança é amplamente conhecida como o "menino do Lapedo". Esta designação será utilizada mais vezes, neste texto.
[3] Duarte, C.; Maurício, J.; Pettitt, P.; Souto, P.; Trinkaus, E.; van der Plitch, H.; Zilhão, J. 1999. The early Upper Paleolithic human skeleton from the Abrigo do Lagar Velho (Portugal) and modern human emergence in Iberia. Proceedings of the National Academy of Sciences USA 96: 7604-9.
[4] Cunha, E. 2001. Origem do Homem Moderno. Programa, Conteúdo e Métodos de Ensino Teórico-Prático. Coimbra, Relatório apresentado no âmbito das Provas de Agregação.
[5] Aguiar, J. 2006. Lapedo: Uma Criança no Vale. Porto, ASA, p. 21.
[6] Borges, J. 1998. Ficções. Lisboa, Teorema, p. 123
[7] Ribeiro, Aquilino. 1957. A casa grande de Romarigães. Lisboa, Círculo de Leitores, p. 9
[8] Aguiar, J. 2006. Lapedo: Uma Criança no Vale. Porto, ASA, p. 39.
[9] Aguiar, J. 2006. Lapedo: Uma Criança no Vale. Porto, ASA, p. 59.
[10] Aguiar, J. 2006. Lapedo: Uma Criança no Vale. Porto, ASA, p. 174.
[11] Aguiar, J. 2006. Lapedo: Uma Criança no Vale. Porto, ASA, p. 175.

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17.11.08

Os dois amigos do Mário

Mário tinha dois velhos amigos*. Diga-se, para que não me julgueis mentiroso, que os amigos não eram assim tão velhos; teriam, quando muito, vinte e alguns anos (quanto aos meses, não sei). Se quiserem conto umas coisas, umas histórias imorais ou assim, sobre esses dois jovens, e que muito agradarão a todos, ao severo pai de família e ao pe... (é melhor não o mencionar). Querem? Claro que querem. Mas, e aqui é que a porca devia torcer o rabo (se ainda porcas existissem): não digo mais nada sobre aqueles dois. Acabou. Vou falar-vos antes do Mário. Mas isso, bem, isso fica para outro dia**.
*As amizades que começam entre as mamas das mamãs são (ou não são): antigas, sólidas e perfeitas.
**Claro que não. O Mário é, para mim, assunto encerrado.

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14.11.08

Estéticas da Morte #quarenta

Foi quando o outono se descamisava numa fúria derradeira de velho inconsolável - disso, eu lembro-me bem. Um graduado do exército, de pança farfalhuda e bigode anafado, solicitara-me um ou dois orgãos essenciais (não para si, mas para uma filha enfermiça e pouco bonita), talvez o coração e as vísceras menos nobres, que, sem grande vontade ou especial prazer, lhe concedi em troca de duas notas reluzentes. Não me julguem estúpido, porém. Os meus ventrículos continuaram a ser meus: exigi um hiato de quinze anos entre a data de celebração do contrato e a data de entrega de tão importante mobiliário.
Os anos passaram, um após o outro - geralmente é o que acontece e desta vez, para não variar, aconteceu outra vez assim - e, um dia, o graduado reclamou o que era seu. Eu, desmemoriado e um pouco bêbedo, fui apanhado de surpresa e sem uma única garrafa que me fizesse esquecer (um pouco mais) o gesto com que cavara a minha própria sepultura. O esquecimento, julgo, é uma forma de salvação. Porém, o militar não tinha esquecido o que eu lhe prometera e, por via de alguma persuasão e de um número excessivo de agentes da polícia, obrigou-me a cumprir a lei e a trespassar-lhe, finalmente, as doces vitualhas do meu peito e ventre.
Fui chamado, obedeço. Eis o meu corpo, tomai-o e dele fazei nada.

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13.11.08

Passeio Público

(Uma cidade geriátrica)

Coimbra é um burgo envelhecido. O mais avelhentado do país, ou o “menos jovem”, de acordo com o “Atlas das Cidades”, um documento que veicula alguns dados estatísticos referentes aos últimos censos, realizados no ano, não tão longínquo, de 2001.

Por vezes parece que não (afinal, a cidade encontra-se bem abastecida de jovens estudantes), mas é cada vez mais difícil subestimar os dados oficiais, científicos, burocraticamente recolhidos, que nos avisam e advertem quanto a uma matéria que vem satisfazendo, ao longo das últimas décadas, as instrutivas discussões dos demógrafos: o envelhecimento da população europeia e, por extensão, da população portuguesa.

É certo que se podem identificar, genericamente, dois factores que contribuem para esta tendência demográfica: o decréscimo acentuado do número de nascimentos e o aumento da esperança média de vida. Ou seja, se por um lado, nascem menos crianças e se acrescenta menos verdura à pirâmide etária; por outro lado, cresce o número de pessoas que chegam a idades mais avançadas. Esta conjunção de factores reflecte-se, obviamente, no índice de envelhecimento das populações.

Coimbra, precocemente amparada por estabelecimentos hospitalares de qualidade comparativamente superior às instituições similares no resto do país e relaxada na sua religiosidade pelos valores humanistas da Universidade, experimentou, mais cedo que a maioria dos restantes distritos portugueses, um decréscimo da natalidade e um incremento da esperança de vida. Em poucas palavras: a sua população começou a envelhecer mais cedo que em outras cidades de Portugal.

Actualmente, o problema é mais grave. O envelhecimento da cidade não é só uma consequência de duas forças em oposição, nascimentos vs. esperança média de vida. É, também, ou sobretudo, uma das sequelas da inaptidão de Coimbra para fixar os (poucos) jovens que nela nascem e os (muitos) jovens que nela estudam; e da incapacidade económica para atrair imigrantes.

As oportunidades de emprego são uma fantasmagoria e os preços da habitação uma porcaria. Os jovens finalizam os seus cursos e migram para a capital do império. A cidade não quer saber deles para nada – os senhores autarcas ainda menos. Afinal, os jovens partem todos os anos mas outros os substituem. Contingências da vida. O envelhecimento não é uma opção. É um compromisso que embarga, por algum tempo, o fim da existência.
(Ontem, 12/11, no Jornal de Notícias)

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12.11.08

24/04/1974


A Revolução de Abril que, entre outras coisas espectaculares, eliminou o lápis azul da censura e promoveu a liberdade de expressão, foi há muito tempo (trinta e quatro anos, se a matemática não me falha). Todavia, em Portugal, ainda há gente a ser perseguida por delito de opinião - tantos anos depois. O facho é filho da mãe*. Ontem, hoje e sempre.
*(José Afonso, Viva o poder popular)

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Weekly Review

Finalmente: um novo livro de Luís Quintais. O livro, que leva o título de Mais espesso do que a água, é editado pela Cotovia. O lançamento é hoje, pelas 18:30h, na Livraria Pó dos Livros. O actor Diogo Dória fará a leitura de alguns poemas.

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O Ewok era mais lindo

Mas o Programa do Aleixo é mesmo uma maravilha. Aos Domingos, pelas 20h30, na SIC Radical.

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11.11.08

Tão pouco de tanto

Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.
(Mt 24:2)

O problema maior é não saber da missa a metade, é percorrer às cegas o entre parênteses: a palavra. Que trampa, toda a auto-referencialidade reiterada, a exaustão do eu. O encosto, o encanto, o erudito. Um cansaço seguido em é. Uma porta fechada, sempre fechada, é mais forte que uma parede de pedra. Um salto em branco. Mas depois da morte, sabemo-lo bem, o nojo é tradição costumada e rotineira. E como gostava de dizer Salustio, ele que tinha tantas outras coisas para dizer: Faber est suae quisque fortunae .

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As escadas

Se eu decidir avançar as escadas vão estar, como sempre, à minha disposição; serão o meio pelo qual eu chegarei a um ponto mais elevado, tendo partido, obviamente, de um ponto mais baixo - reparem que falo de posições cartográficas e não de estados de espírito ou de feitio e carácter.
Os degraus não são especialmente íngremes ou perigosos; no entanto, os muros altos que ladeiam a escadaria fomentam no perfumado passante um certo temor relativamente à vida e aos escolhos que por ela se insinuam - se não em todos os momentos, pelo menos quando a hora pede um passeio por lugares estreitos, escuros e frequentados por indivíduos com a cobiça nos olhos e a faca na mão.
Arrisco a subida: a minha chegada ao ponto mais elevado é sumamente desejada; por mim, por uma senhora que me espera e pelos tais indivíduos de, digamos, perversa catadura. Toc-toc-toc, nada a declarar. A ascensão faz-se bem, e a bom ritmo, as horas que perco no ginásio vão fortalecendo o meu coração. Chego atrasado. Malditas facas que permaneceram quietas (e não me fizeram correr mais).

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Insectos

(...) É uma vergonha deixar de ver pessoas para passar a ver anúncios de tolices sociais. Um cigano ou um negro ou um branco não é um anúncio da etnia cigana ou negra ou caucasiana. Uma parte importante dos males da humanidade resulta precisamente destas identificações tolas com mentalidades genéricas, pois sem isso dificilmente uma pessoa medianamente boa conseguiria matar ou torturar outro ser humano em boa consciência.
(...)
A mania denunciada por Orwell de classificar os seres humanos como quem classifica insectos é um dos defeitos da humanidade. Talvez não possamos livrar-nos disso tão cedo, mas podemos pelo menos dar alguns passos nessa direcção, reconhecendo que qualquer ser humano, seja qual for a sua origem, tem o direito de aceitar ou rejeitar a mentalidade do seu grupo social, étnico, religioso ou nacional e, mesmo que as aceite, não é um mero anúncio dessa mentalidade.

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10.11.08

Nouvelle Vague

Parece que vieram cá - mais uma vez. Os Nouvelle Vague metem-me um bocado de nojo. Metem-me muito nojo. A culpa é deles que onde metem a mão é para estragar. Quem é que, estando aparentemente na posse de todas as suas faculdades mentais, transforma perfeições musicais como Ever fallen in love?, dos Buzzcocks, ou Guns of Brixton, dos The Clash; numa xaropada inominável, armada em música de fusão, de um mau gosto tão atroz que nos faz suspirar de desejo pelo music hall com que nos atormentam os senhores da Cofidis enquanto esperamos pelo empréstimo dos cinco mil euros a 30%? Só um burro de lei, à antiga. Bem, neste caso, os asnos são dois: Marc Collin e Olivier Libaux. Estes senhores, e quem os ouve, são os responsáveis por um horripilante e maléfico projecto de destruição de originais magníficos; são os culpados pela mcdonaldização de produtos naturais, de músicas sem bifidus activo, sem aditivos, sem corantes nem conservantes - sem merdas (desculpe-me o bem-educado leitor), fantochadas pseudo-chiques ou a cona da avó (esta não tem desculpa). Eu aviso: não ouçam aquele sucedâneo sensaborão a que alguns, de ouvido menos dotado, chamam música. Façam um manguito pungente àquela merda (já nem me atrevo a pedir desculpa). É certo, tal como onze e onze serem quase vinte, que ninguém vai ligar ao que digo. Eu prefiro a Romana; ou a Ana Malhoa; ou o Toy. São maus (são péssimos, vá), mas sabem a alguma coisa.

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7.11.08

the beginning and after

a noite deu fruto, mesmo depois daquela festiva obscuridade. havias de te ter visto então, como eu te vi, unânime e assombrosa. magnífica. essas foram as palavras. sabemo-lo bem: as palavras pensadas daquela forma não podem ser retiradas. assim foi. assim é: magnífica. unânime e assombrosa. uma outra face de mim mesmo. um caminho inteiro, escolhido e inteiro, perfeito e inteiro. é com prazer que anuncio: hoje, uma única palavra tem direito a maiúsculas. Amor, a palavra Amor.

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The beginning


(You fly straight into my heart)

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6.11.08

Passeio Público

(Recordação do dia dos mortos)

O dia era de finados, dos fiéis defuntos. A romaria aos cemitérios tinha começado bem cedo, pela manhã. A prática costumada de milhões de católicos: recordar os mortos, adornar a derradeira morada dos que partiram antes de nós. Revivescer a sua memória.

No Alto da Conchada ou no cemitério paroquial do Ameal o ramerrame embelezador é o mesmo, os sentimentos também. A estranheza da morte é igual em todo o lado. Apesar da crise, e do preço dos gladíolos, as áleas recolhidas entre os plátanos encheram-se de cores celebratórias, de homenagens póstumas e saudades desabrochadas em ramos imensos de cravos.

Quando cheguei ao cemitério do Ameal, com a tarde quase cumprida, a colina marmórea aconchegava já o ardor das velas e o cuidado de alguns derradeiros visitantes, afrontados pela comoção nostálgica, suspendia-se no arrasto de flores e na libação a negro das memórias calcadas pelos passos de anos. Reparei que a maior parte das sepulturas se animavam de branco (frio, pétreo e perene), e aquelas velhas grades que antes marcavam o horizonte do cativeiro eterno, e o delimitavam, vão sendo cada vez menos, desaparecendo, ano após ano, em pachorrento denodo.

Pelo que sei, o último pastor da aldeia está vivo e transpira saúde – ainda bem. As grades dos cemitérios – sabiam-no? – protegiam os mortos dos animais de pasto. Como vai ser quando desaparecer o último pastor? Sem a vigília tutelar do pastor perdem-se as ovelhas na infinitude dos caminhos. Perdem-se as grades que nos prendem a algum lado - mesmo que seja o lado de lá.

Vagueei por ali, mais um pouco, ciciando objecções às lonjuras finais da tarde. Procurei uma daquelas grades enferrujadas, preguiçosas, chegadas aos muros depois da jubilação compulsiva: o seu vago azul fazia lembrar a cor de um berço. Diluí a atenção no sentimento melancólico da brevidade da vida. Na realidade, a proximidade de um cadáver acelera a floração, as mais belas violetas alimentaram-se da corrupção. A terra dos mortos, a própria morte, é fecunda: exquisitum alimentum est. Os antigos sabiam o que diziam. O ciclo nunca acaba.

As folhas outonais, semeadas ao acaso, queimavam de vermelho as lajes brancas. Percorri em angústia os epitáfios. A brevidade. A inevitabilidade. A violência do julgamento: O que é o mundo? O que é? Nada.
(Ontem, 05/11, no Jornal de Notícias)

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5.11.08

Champions League


(Eu acredito neste gajo)

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Yes we can

4.11.08

Almas mortas #dois

Falo daquelas almas que, precisamente, já morreram. Vocês sabem, aquelas almas que partiram para o outro lado do rio (o Styx, talvez), aquelas almas que, precisamente, já faleceram, que, indubitavelmente, já são apenas uma energia nos livros de Lobsang Rampa, que, exactamente, já não estão entre nós (os vivos, suponho), que, talvez, já estejam junto a Deus, Nosso Senhor (acompanhar com persignação).
É suposto falar delas?
Sim. É absolutamente necessário juntar palavras ao memorial colectivo dos mortos - e às velas que os aquecem no albúmen dos covais. Fomos aos mortos, no Domingo. Fomos às almas. Fomos ao destino que nos espera, cavado na terra e tapado com mármores de Estremoz (ui que medo!, não fales disso, assim, dessa maneira tão descomprometida e fria, que dá azar e eu ainda ando a ver se ganho alguma coisa no totoloto).
É preferível sermos nós a falar delas.

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Isto é porreiro

É engraçado receber as visitas, algumas vêm muitas vezes por dia (não aquelas que nos são próximas, essas vêm cada vez menos, mas outras), é bom enviar os drafts de uma crónica e perceber que, do outro lado de uma linha invisível, alguém os lê e, melhor que tudo, gosta. É ainda melhor receber mails de encorajamento e até de agradecimento. Isto é porreiro. Esta coisa estranha que deixou de o ser.

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700 anões (+16)



(Rua de Miguel Bombarda, Porto)

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Endorsement

Janes Addiction & Body Count - Dont call me whitey nigger

(Yes we can)

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